domingo, 21 de fevereiro de 2010
Midrash
08:39
קְלַאוּדִינֵי
As letras competem por uma preciosa oportunidade
As letras do Alef Bet estavam reunidas em volta de D’us, com muita expectativa e alvoroço. Uma feliz letra seria escolhida em breve para iniciar a primeira palavra sagrada da Torá, o mais precioso tesouro do mundo. Qual seria ela? Cada uma esperava que D’us a escolhesse entre todas as outras e juntas clamavam por sua atenção.
"Por favor, D’us, comece a Torá comigo!" gritavam todas juntas.
A letra Tav moveu-se para a frente. "D’us", gritou ela. "Sou a maior de todas as letras! Sou Tav, a primeira letra da amada palavra Torá! Sei que cada letra do Alef Bet corresponde a um número; meu valor equivale a quatrocentos, o número mais alto de todos! 1 Não concordas que devo ser o começo da Torá?
"Acho que não", respondeu D’us, "porque um dia te usarei como um mau sinal. Muitos anos mais tarde, quando destruirei o Bet Hamicdash usarei a ti Tav, para marcar os judeus que merecem morrer."
"Nesta época", continuou D’us, "ordenarei ao Anjo da Morte para voar sobre Jerusalém e escolher os judeus que são Tsadikim (justos). Na testa de cada Tsadic ele marcará a letra Tav com tinta invisível."
"O Tav significará a palavra hebraica "tu viverás" e aos judeus assim marcados será permitido viver a salvo de seus inimigos."
"Então ordenarei ao Anjo da Morte, ‘Separa os judeus que são perversos, os Resha'im. Marque em cada testa do Rashá a letra Tav, não com tinta, mas com sangue. O Tav sangrento significará a palavra hebraica "tu morrerás" e os judeus perversos assim marcados serão destruídos por seus inimigos."
Você vê agora, Tav, porque não quero usá-la para começar a Torá: porque, um dia, você servirá como sinal nos judeus que devem morrer."
Ao ouvir isto, Tav saiu profundamente desapontada.
A letra Shin veio para a frente esperançosa. Ela se inclinou e pediu em voz alta:
"Por favor, D’us, usa a mim como a primeira letra de sua Torá! Depois de Tav sou o número mais alto do Alef Bet, igual a trezentos. Eu sou até o começo de um de seus nomes sagrados, Sha-dai."
"Absolutamente não," respondeu D’us, "pois, apesar de ser verdade que és importante, inicias os nomes de coisas tão odiosas como shav, que quer dizer "falsidade" e sheker, que quer dizer "mentira". Odeio mentiras e falsidades. Construí Meu mundo sobre a verdade."
Shin saiu abatida.
Isto não desencorajou Reish de se aproximar do trono de D’us. Ele sentiu que tinha um argumento convincente. "Tem piedade de mim, D’us" pediu ela, "e honra–me com o início de sua Torá. És conhecido como um D’us Misericordioso e sou a primeira letra da palavra Rashum, que significa ‘misericordioso’. Também devo lembrar que sou o começo da palavra refuá, ‘curar’..."
A voz de Reish parecia embaraçada, pois sentiu que D’us ia recusar seu pedido.
Seus temores foram confirmados, pois D’us explicou: "No futuro, Moshê Rabênu conduzirá os judeus através do deserto. Alguns judeus ingratos não irão aceitá-lo como líder. Em seus corações irão resmungar, ‘Nós preferimos servir ídolos no Egito a servir D’us como homens livres no deserto’. Eles vão gritar, ‘Vamos nos revoltar contra Moshê, escolher um outro líder e voltar para o Egito’."
D’us perguntou: "Estás consciente, Resh que és a primeira letra da palavra Rosh (líder) a ser clamada pelos judeus rebeldes?" "Para piorar as coisas" continuou D’us, " és o começo da palavra Rá, que significa ‘maldade’ e Rashá, uma pessoa perversa." Reish compreendeu que não seria aceita e concordou com relutância. Mais do que depressa, a letra Kuf agarrou a oportunidade:
"Que tal eu?" falou. "Sou uma letra maravilhosa. Quando os judeus forem rezar, irão me usar para começar a recitar a Kedushá. Irão proclamar, ‘Cadosh, cadosh, cadosh, sagrado é ²D’us.’" "No entanto," persistiu D’us, "não podes ser a primeira letra da Torá. És o começo da palavra Kelalá, ‘maldição’. Não quero que as pessoas perversas digam, "Quando D’us fez o mundo, Ele o amaldiçoou, por isso começou a Torá com um Kuf."
Uma a uma, todas as outras letras se aproximaram do trono de D’us, tentando tomar para si a glória de se tornar o começo da Torá. Elas persuadiam, imploravam, pediam e argumentavam, mas inutilmente. D’us rejeitou todas elas.
Finalmente, ficaram apenas duas letras, Alef e Bet. Estas duas esperaram, ficando mais tensas a cada momento. Bet estava tão nervosa que, após a longa espera, o pequeno ponto dentro dela estremecia, como uma batida de coração.
"Por favor, D’us," exclamou meio excitada, meio soluçando, "eu gostaria tanto de ser a primeira letra da Torá! Sou o começo de muitas coisas boas. Seus filhos, os judeus, dizem seus louvores na s preces: "Baruch D’us – louvado seja D’us; e ‘Louvado seja o nome de D’us para sempre’; e ‘Louvado seja D’us para sempre, amen, amen.’ Todos estes louvores começam com um Bet!"
Desta vez, D’us concordou.
"Sim, respondeu Ele. "Começarei a Torá contigo. Bet é o começo de Berachá, bênção. Quero que todo o povo da Terra saiba que o amo e o abençôo. Por isso, a Torá vai começar com um Bet, com a palavra Bereshit."
Ao ouvir que Bet foi escolhida, Alef se afastou em silêncio.
"Alef", chamou D’us, "não queres pedir por ti também?"
Alef suspirou:
"Sou uma letra tão sem importância," disse com humildade. "Todas as outras letras do Alef-Bet merecem muito mais do que eu. Bet é igual a dois, Guímel a três, Dalet a quatro -– mas sou apenas um pequeno número, igual ao número um."
"Ao contrário, Alef," exclamou D’us. "Alef, és o rei de todas as letras! És um e Eu também sou Um, e a Torá é uma."
"Portanto, quando Eu der a Torá no Har Sinai, não vou começar com nenhuma outra a não ser tu. Estarás no começo dos Dez Mandamentos: "Anochi", D’us, Eu sou D’us."
A criação do Céu e da Terra e a importância da paz
Quando D’us estava para criar o mundo, o Céu suplicou: "D’us, primeiro cria todas as coisas relativas a mim – o firmamento, o sol, a lua e as estrelas."
A Terra insistiu: "D’us, deixa-me ser a primeira! Cria as plantas, os animais e as pessoas que viverão na Terra."
Esta discussão egoísta não agradou a D’us, pois Ele deseja que todos vivam em paz e harmonia. Por isso respondeu:
"Vou deixá–los se revezar, Céu e Terra, para ver a criação realizada. No primeiro dia, farei o Céu e a Terra. No segundo dia, darei a vez para o Céu, farei o firmamento. No terceiro dia, a Terra terá a sua vez, reunirei as águas e cobrirei o chão com grama. No quarto dia, o Céu terá outra vez a chance e Eu colocarei nele o sol, a lua e as estrelas. No quinto dia, será novamente a vez da Terra, encherei os oceanos com peixes e criaturas do mar. O sexto dia, porém, será dividido entre o Céu e a Terra. Criarei Adão dos dois, da Terra e do Céu: seu corpo será feito do pó da Terra, mas a sua Neshamá, sua alma, virá de Mim, do Céu."
Quem é o primeiro a fazer a paz?
Nossos sábios sempre se esforçaram de todas as maneiras possíveis para viver em paz com todos.
Há uma história que ilustra esta afirmação:
"Certa vez, um açougueiro começou uma briga com Rabino Abba, conhecido como Rav, o grande estudioso da Torá. Rav estava ansioso para fazer as pazes com o açougueiro e decidiu esperar os dias que antecedem Yom Kipur. ‘’Esta é uma ocasião,’ ele pensou consigo mesmo, ‘na qual as pessoas fazem as pazes umas com as outras. Certamente, o açougueiro virá e irá me pedir perdão. Seremos novamente amigos.’
Mas a véspera de Yom Kipur chegou e não havia sinal do açougueiro.
Não é suficiente esperar que o açougueiro venha a mim fazer as pazes," pensou Rav. "Se eu realmente desejo paz, tenho que ir atrás dela. Se o açougueiro não vem a mim, irei a ele."
Apesar da briga ter sido, de fato, culpa do açougueiro, Rav estava pronto para se humilhar diante dele e pedir-lhe perdão. Quando Rav chegou, viu o açougueiro brandindo um enorme machado com o qual cortava fora as cabeças dos animais. O açougueiro levantou os olhos de seu trabalho e percebeu Rav.
Zangado, ele gritou:
"É você, Abba? Vá para casa, não quero nada com você,
Imediatamente, D’us, castigou o açougueiro por se recusar a fazer as pazes e ofender o Rav.
Quando o açougueiro ergueu seu machado para dar o próximo golpe, o ferro se soltou do cabo de madeira e bateu na própria cabeça do açougueiro, matando-o.
É uma Mitsvá ser o primeiro a fazer as pazes e se desviar do seu caminho para fazer isso, como diz o Passuk no Tehilim. Isto quer dizer que devemos ir em busca da paz e não ficar esperarando por ela.
Os seis dias da criação
O primeiro dia: D’us criou a Luz, o Céu e a Terra.
No primeiro dia da Criação, D’us criou a Luz antes de tudo.
Ele o fez do mesmo modo que um rei quer construir seu palácio.
Uma parábola
O rei que não pôde criar a luz
A noite toda, o rei e sua companhia marcharam através da flo-resta. Os soldados da escolta real sussurravam excitados entre si. Quando vão chegar lá? Como será? Durante meses – não, anos – o rei planejou construir o mais suntuoso palácio do mundo. Agora, finalmente, a construção seria iniciada e o rei pessoalmente estava-os conduzindo para o lugar que havia escolhido para esta obra.
De repente, os sussurros pararam, porque o rei se deteve. Ele apontou para uma enorme clareira e comandou: "Agora! Vamos começar a construção!"
As ordens do rei foram recebidas com um silêncio terrível. Os construtores reais baixaram suas cabeças e não conseguiam falar.
"Majestade," propôs tremendo um trabalhador, ‘é noite agora e no escuro da floresta mal podemos enxergar qualquer coisa!"
"Luzes", vociferou o rei. "Os trabalhadores precisam de luz! Luzes, imediatamente!"
Ouviu-se desesperada correria de pés, enquanto todos procuravam os eletricistas reais. Finalmente, eles descobriram um eletricista em meio aos trabalhadores da construção, mas, em voz baixa, ele confessou que não havia trazido consigo nem fios elétricos e nem interruptores.
"Vocês não têm velas nem fósforos, ao menos?" grunhiu o rei. "Acendam tochas!"
Mas o vento da floresta estava soprando tão forte que era impossível acender uma chama.
Atrapalhado e zangado, o rei foi forçado a anunciar que a construção seria adiada. Ele não tinha meios de criar a luz que era necessária para começar a construção do palácio.
A chave para a parábola
D’us criou a luz bem no início.
Mas como D’us é diferente de um rei humano! O rei humano pode se enfurecer, bradar e bater os pés, mas sem fósforos, luz elétrica ou alguma outra espécie de luz conhecida, ele não pode criar a luz.
D’us, porém, criou a luz do nada, pronunciando somente três palavras: "Que haja luz!" E, de repente, saída do nada, a luz apareceu do meio da escuridão.
D’us decidiu, "Que haja sempre luz durante o dia, para que as pessoas enxerguem e possam fazer seu trabalho. Todas as noites Eu trarei a escuridão para que as pessoas possam descansar."
Depois, D’us criou o Céu e a Terra. D’us não precisou colocar suportes embaixo do globo para segurá-lo. Ele o suspendeu no espaço.
Segundo dia:
D’us fixa o firmamento
A Terra que D’us criou no primeiro dia estava coberta de água, que estava amontoada sobre o chão a grande altura. Não havia firmamento. No segundo dia, porém, D’us ordenou para as águas:
"Dividam-se em duas! Uma das metades ficará no alto e a outra afunde na Terra e Eu fixarei o firmamento no meio."
D’us chamou o firmamento Shamáyim, Céu. Ele manteve água nas nuvens em forma de vapor para mandar mais tarde em forma de chuva, a fim de que as plantas na Terra pudessem crescer.
Terceiro dia:
D’us criou a terra seca, a grama, as árvores e todas as espécies de plantas
No terceiro dia, a água ainda cobria toda a Terra. Não havia um único ponto seco. D’us ordenou ao anjo do mar:
"Reúna toda a água em alguns lugares para que o restante se torne seco."
O anjo do mar perguntou: "Onde porei toda a água que sobrar? Dificilmente haverá lugar suficiente na Terra para tanta água!"
D’us então juntou toda a água da Terra e a derramou nos oceanos, lagos e rios. O restante da Terra se tornou seca. A água, porém, ficou tão aborrecida por estar aprisionada que ameaçou transbordar e cobrir tudo outra vez.
"Fique onde a deixei!", ordenou D’us. Não inunde a terra seca!" D’us pegou um pouco de argila, escreveu sobre ela Seu grande Nome de quarenta e duas letras e jogou-a no fundo d’água. Enquanto a argila estiver lá embaixo, nas profundezas da água, esta não inundará a terra. (Antes do Dilúvio, D’us a removeu). Então D’us ordenou:
"Que a relva cubra a terra seca!"
Imediatamente, a relva começou a brotar da terra. Além da grama para os animais, D’us criou todos os tipos de grãos, vegetais e ervas comestíveis. Ele também ordenou à terra que produzisse uma grande variedade de flores, para dar prazer à visão e ao olfato; além de todos os tipos de folhas e arbustos.
Estes maravilhosos exemplos das obras de D’us podem ser admirados nos jardins e campos, nas florestas e montanhas e todas elas foram produzidas por D’us no terceiro dia da Criação. Então D’us ordenou:
"Que árvores frutíferas cresçam na terra!"
Imediatamente, emergiram milhares de tipos de árvores; macieiras, pereiras e laranjeiras, ameixeiras, pessegueiros e o que se pudesse imaginar, cada uma com frutas deliciosas, de cores e formas diferentes.
Quarto dia:
D’us suspende o Sol, a Lua e as estrelas no firmamento
No quarto dia, D’us colocou o sol, a lua e as estrelas no firmamento. Existem sete Céus, um sobre o outro. D’us pôs o Sol no Segundo Céu e não no mais baixo, pois queimaria o mundo inteiro com seu intenso calor.
O Midrash explica: A lua é punida por reclamar
Quando D’us criou o Sol e a Lua, Ele fez os dois exatamente do mesmo tamanho. A Lua disse para D’us:
"Sempre que criastes um par, fizestes um maior que o outro. Fizestes dois mundos – olam hazê, este mundo e olam habá, o mundo vindouro. Dois olam habá é o maior. Criastes o Céu e a Terra, o Céu é maior, por ser Tua morada. De fogo e água, a água é mais forte, porque extingue o fogo. Só o Sol e eu, a Lua, fizestes do mesmo tamanho. Um de nós tem que ser maior."
"Ahá!" exclamou D’us. "Sei qual é seu verdadeiro propósito, Lua! Você gostaria que a fizesse maior e o Sol se torna-se o menor. Mas por ter se queixado, Eu a farei menor."
"O meu castigo será tão grande, só porque me ter reclamado?" perguntou a Lua.
"Bem," respondeu D’us, "no futuro, quando Mashiach chegar, Eu farei a sua luz mais forte, tão forte como a luz do Sol agora."
"Serei então igual ao Sol?"
"Não," respondeu D’us, "porque então o Sol brilhará sete vezes mais do que agora."
Quinto dia:
D’us criou os peixes e os pássaros
No quinto dia, D’us encheu as águas com milhares de espécies de peixes e criaturas marinhas. Ele também criou os pássaros que voam no firmamento.
Sexto dia:
D’us cria os animais e o homem
No sexto dia, D’us fez todos os animais, grandes e pequenos. Ele pôs sobre a Terra elefantes, ursos, leões, tigres, panteras, vacas, carneiros, cachorros, gatos bem como camundongos, ratos, doninhas, esquilos e tantas outras espécies de animais. Não se pode esquecer dos insetos. Pode-se conhecer apenas alguns poucos insetos, como moscas, pernilongos, formigas, aranhas, baratas e, naturalmente, zangões e gafanhotos, mas na realidade existem milhões!
Mesmo o corpo dos menores insetos foi feito por D’us para funcionar como um mecanismo complexo. Ao serem estudadas as partes do corpo de um inseto, começa-se a entender um pouco sobre a fantástica sabedoria de D’us.
Finalmente, D’us formou a maior de suas Criações: o homem.
Uma história:
Ninguém pode se comparar ao Criador
O imperador romano, Adriano, voltou de Êrets Yisrael, após tomar parte na destruição do Segundo Bet Hamicdash.
"Vocês vêem," gabou-se ele para os romanos," eu lutei contra o D’us dos judeus. Destruí Sua terra, queimei Sua casa e escravizei Seu povo, os judeus. Por isso, agora também sou um deus. Obedeçam-me e sirvam-me!"
Três de seus mais sábios ministros estavam presentes. O primeiro se levantou respeitosamente e disse:
"Oh, Imperador! Como você pode dizer que venceu D’us se você ainda está em Seu palácio? Deixe o Seu palácio e o declararemos deus. O céu e a terra são o palácio de D’us. Se você pode sair do céu e da terra, nós o serviremos!"
O segundo ministro respondeu à arrogância de Adriano:
" Desejo fazer um pequeno pedido," anunciou. "Se você realizar, nós o serviremos. Este é o meu pedido. Uma forte tempestade se levantou e não nos deixa aportar. Sou um homem infeliz, porque todo o meu dinheiro estará perdido. Só faça o navio aportar e eu, certamente, irei servi-lo como a um deus!"
"Muito bem," respondeu Adriano. "Mandarei toda a minha frota para ajudá-lo. Os marinheiros jogarão cabos e puxarão seu navio para a costa."
"Por que você dá ordens tão complicadas?" perguntou o ministro. "Mande apenas um vento para trazer meu navio para a costa."
"Eu não sei como comandar o vento," disse Adriano.
"Então, como você nos pede para servi-lo?" disse o ministro. "D’us criou o vento e o governa. Como você pode pretender ser um deus?"
O terceiro ministro disse para Adriano:
"Nós o serviremos se você ordenar ao mar que se retire, para que a terra seca apareça e as pessoas possam se instalar nela."
"Isto é impossível para mim," admitiu Adriano.
"Mas quando D’us criou o mar," disse o ministro intencionalmente, "Ele foi capaz de dar ordens e dizer–lhe como fluir. Como então você se compara a D’us?"
Adriano ficou furioso com seus ministros. Foi para casa e se queixou para sua mulher que seus ministros se recusavam a servi–lo. Sua mulher era muito esperta e disse:
"Faça só uma pequena coisa e você será considerado deus."
"O que devo fazer?" perguntou-lhe Adriano.
"Devolva sua alma a D’us," disse ela.
"Você perdeu o juízo?" perguntou-lhe ele. "Se minha alma deixar meu corpo, não estarei mais vivo!"
"Como você pode querer ser um deus?" perguntou sua mulher. "Nem ao menos consegue comandar sua própria vida e quer fazer de conta que governa o céu e a terra?!Vamos servir melhor a D’us Que criou o céu e a terra, fez as plantas e os animais e criou todas as pessoas e as mantêm vivas."
Sétimo dia
Shabat O desfile dos anjos
No sétimo dia, D’us sentou-Se em Seu Trono e Ordenou a todos os anjos que marchassem a sua frente, num grande desfile.
Primeiro, o anjo a quem Ele tinha nomeado para se encarregar dos oceanos passou marchando feliz, seguido do anjo encarregado dos rios.
Depois, marchou o anjo nomeado para cuidar das montanhas; o anjo das águas profundas; o anjo da relva; o anjo do Guehinom (inferno); o anjo do Gan Eden (paraíso); o anjo dos insetos e répteis; o anjo dos animais selvagens; o anjo dos gafanhotos e, finalmente, o anjo encarregado de todos os outros anjos.
Todos os anjos dançaram em santidade e alegria. Encheram os céus com felicidade! Louvaram D’us e gritavam: "A glória de D’us durará para sempre!" Também cantavam: "Que D’us se regozije com a maravilhosa Criação que Ele fez!"
Então D’us acenou para o anjo encarregado do Shabat e sentou-o no trono de honra. Todos os anjos dançaram ao seu redor e cantaram, "Hoje é Shabat Côdesh, o santo Shabat para D’us!"
Depois que D’us criou Adão, Ele o ergueu e deixou-o ver como era grande a felicidade do Shabat no Céu. O dia do Shabat era como um grande siyum, uma festa de celebração, porque D’us havia terminado Sua obra. Quando Adão viu os anjos cantando e dançando, compreendeu como é santo o dia de Shabat e a felicidade que ele poderia trazer para as pessoas na Terra.
O Midrash explica:
Shabat recebe um sócio eterno
Depois que D’us fez o Shabat, o Shabat exclamou: "Estou tão triste e solitário. Sou o único dia que não tem sócio. Domingo vai junto com a Segunda; Terça é vizinha da Quarta; Quinta tem Sexta. Mas eu não tenho ninguém que esteja junto comigo, porque sou o último dia da semana!"
D’us respondeu: "Não se preocupe, Shabat. Um povo inteiro será seu amigo. O povo judeu terá o privilégio de mantê–lo santificado. Por isso você, Shabat e o povo judeu irão sempre pertencer um ao outro!"
O Midrash explica:
Todas as criações louvam D’us
Você sabia que todas as criações cantam louvores a D’us? Elas Lhe agradecem por tê-las feito tão perfeitas e porque Ele designou tarefas no mundo a cada uma. As árvores louvam a D’us com os graciosos movimentos do balanço de seus galhos. A água canta para Ele com o barulho das ondas e o poderoso rugir da rebentação. Os animais O louvam com seus variados chamados e sons. O Sol e a Lua O louvam com seu brilho sobre o mundo. Isto é o que diz o Passuk no Tehilim (capítulo 148): "Louvem D’us, da terra; as cobras grandes e todas as criaturas que vivem nas profundezas; fogo e granizo; neve e neblina; o vendaval que cumpre as ordens de D’us; montanhas e todos os morros; árvores frutíferas e todos os cedros; bestas selvagens e todo o gado; animais rastejantes e pássaros alados."
Mas quem deveria louvar D’us mais do que todos?
Certamente nós, que devemos lembrar que tudo no mundo foi criado para a humanidade e que fomos criados para servir a D’us.
Como D’us criou Adão e Eva no sexto dia
D’us criou cada ser em apenas alguns segundos. Adão foi uma exceção. D’us se ocupou com sua Criação por muitas horas. (Ele fez isso para nos mostrar como Adão era importante).
Durante a primeira hora D’us juntou pó de toda a Terra.
Durante a segunda hora D’us misturou o pó com a água e amassou–o até formar uma substância parecida com massa.
Durante a terceira hora D’us formou o corpo de Adão, seus braços e pernas.
Durante a quarta hora D’us soprou a Neshamá (alma) no corpo de Adão. O corpo de Adão era de terra, mas sua alma era um sopro Divino. É por isso que cada pessoa é capaz de se tornar um grande Tsadic, porque nossas almas são fonte de santidade, do Próprio D’us.
Durante a quinta hora, Adão se levantou.
Durante a sexta hora, D’us trouxe todos os animais perante Adão. Com a sabedoria que D’us lhe deu, Adão pôde dar a cada animal o nome apropriado pelo qual deveria ser chamado.
Durante a sétima hora, D’us falou: "Não é bom que Adão fique só. Vou lhe dar uma esposa para ajudá-lo!" D’us provocou em Adão um sono profundo. De um dos ossos que retirou do corpo de Adão, criou a mulher, Eva. D’us fez Eva de uma parte de Adão para que este gostasse de sua esposa tanto quanto dele mesmo.
Durante a sexta hora, D’us deu a Adão uma ordem.
Adão e Eva no Gan Eden (Paraíso)
D’us colocou Adão e Eva no Gan Eden, o jardim mais encantador da Terra. Todas as árvores preenchiam o ar com frutas doces e perfumadas de todas as espécies. Adão e Eva só tinham que estender a mão para pegar uma das deliciosas frutas ou beber água do rio cintilante e límpido que corria através do Gan Eden.
D’us ordenou a Adão para cumprir certas mitsvot. Sempre que ele cumpria estas Mitsvot, as plantas do Gan Eden cresciam. D’us mandou um anjo para o Gan Eden. O anjo escreveu um livro para Adão que continha muitos segredos de D’us. Adão estudou este livro.
Ambos, Adão e Eva eram pessoas santas e puras, onde o mal e a má inclinação não existiam. Eles estavam sempre pensando e fazendo o bem.
D’us põe Adão e Eva à prova
D’us ordenou a Adão:
"Vocês podem comer as frutas de todas as árvores do Gan Eden, exceto de uma: Não comam da árvore do centro do jardim! No dia em que vocês comerem o seu fruto, vocês merecerão a morte. Se vocês não o comerem viverão para sempre."
D’us deu à serpente o entendimento e o poder de falar. Naquele tempo, a serpente tinha pernas e andava ereta. Ela se chegou a Eva e perguntou-lhe astutamente:
"D’us realmente lhes disse para não comerem nenhuma fruta do Gan Eden?"
"Não, Ele não o fez," respondeu Eva. "D’us nos deixa comer as frutas de todas as árvores, exceto daquela no centro do jardim. D’us nos proibiu de comer daquela árvore para nosso próprio bem. Se comermos dela ou a tocarmos, mereceremos a morte."
"Sua boba!" retrucou a serpente. "Esta não é a verdadeira razão. A verdadeira razão é que D’us sabe que tão logo vocês comam do seu fruto, vocês ficarão muito inteligentes, iguais aos anjos. Vocês então conhecerão todos os segredos de D’us!"
Ao contrário das palavras da serpente, D’us preveniu Adão e Eva para não comerem daquela árvore para protegê-los contra o mal. Mas a astuta serpente distorceu tudo, e foi convincente. Eva acreditou em suas palavras.
Olhou para a árvore. Seus frutos pareciam lindos e eram muito perfumados. Como podia ser que comer desta árvore causasse a morte? Talvez a serpente estivesse certa – comendo dos frutos, ela e Adão se tornariam tão sábios quanto os anjos.
A serpente reparou que Eva estava em dúvida como agir. Rapidamente, ela a empurrou para a árvore.
"Veja, você a tocou!" exclamou a serpente. "Aconteceu alguma coisa a você? Assim como você não morreu tocando nela, você não morrerá comendo dela. Ao contrário, você se tornará igual ao próprio D’us." Se você esperar e não comer isso agora, D’us criará outro que mandará em vocês. Olhe, qualquer coisa que for criada depois, mandará no que foi criado antes.
Eva convence Adão também a comer o fruto da árvore proibida e ambos são castigados.
O castigo Divino
Quando eles ouviram a voz de D’us, ficaram muito assustados. D’us perguntou a Adão:
"Adão, você comeu da árvore proibida?"
Ao invés de responder, "Agi errado, e me arrependo sinceramente" Adão respondeu: "Isto foi culpa da mulher que me destes, D’us. Ela me deu dessa fruta. Ela me fez pecar!"
D’us se virou para Eva e disse:
"Como você pôde fazer uma coisa tão terrível? Você trouxe a morte sobre você e Adão!"
"Foi culpa da serpente," chorou Eva. "Ela me contou mentiras e discutiu comigo!"
"Não culpe aos outros ao invés de admitir a própria culpa," disse D’us. "Vocês são culpados e serão castigados. Quanto a você, serpente perversa, cortarei suas pernas para que tenha de rastejar sobre seu corpo. Você comerá pó por toda a vida e carregará veneno em sua boca. Todos os humanos serão seus inimigos. Se eles pecarem, você os morderá. Mas se eles seguirem os Meus mandamentos, eles conseguirão pisar sobre sua cabeça e matá-la."
D’us amaldiçoou a serpente, fazendo os homens serem seus inimigos. Os homens pisarão em sua cabeça para esmagá-la.
D’us castiga Adão e Eva
D’us disse a Eva:
"Se você não tivesse pecado, você e Adão viveriam para sempre. Agora, vocês devem morrer! Além disso, Eva, você sofrerá dores quando der à luz a filhos e será difícil criá-los."
Disse D’us para Adão:
"Por não ter guardado Meu mandamento nem por uma hora, irei castigá-lo. Se não fosse pelo seu pecado, você poderia viver no Gan Eden para sempre. Agora terá de sair. No Gan Eden toda sua comida vinha pronta, agora você terá de semear, plantar, ceifar, colher e preparar seu alimento. Se você for mantido muito ocupado, terá menos tempo para pecar!"
Adão e Eva deixam o Paraíso
D’us conduziu Adão e Eva para fora do Gan Eden. Primeiro, D’us pôs Adão num lugar escuro da Terra chamado Êrets. Não havia luz alguma naquele lugar e Adão estava profundamente assustado. Tudo o que conseguia enxergar era a lâmina de uma espada girando a sua volta, sem parar. Adão fez Teshuvá. Estava arrependido por ter escutado a Eva.
Para se purificar, Adão imergiu nas águas do rio Guishom. D’us teve pena dele o e colocou num lugar melhor, chamado Adamá. Mais tarde, quando o filho de Adão, Shais nasceu, D’us colocou-o em Tevel, o melhor lugar do mundo.
A briga de Caim e Abel
Adão tinha dois filhos, Caim e Abel. Os dois eram diferentes. O filho mais velho, Caim, era orgulhoso e egoísta. Abel, porém, era humilde. Adão disse a seus filhos: "É conveniente que vocês ofereçam um sacrifício a D’us no altar (Mizbêach) que eu construí."
Caim era agricultor e colhia lindas frutas em toda as estações. Mas decidiu guardar as melhores para si. Caim comeu até que ficou satisfeito e então ofereceu para D’us as sobras. Ele nem mesmo ofereceu para D’us as frutas das árvores, mas apenas frutos da terra. O irmão mais novo, Abel, era pastor. Ele matava suas melhore e mais gordas ovelhas e colocava-as no altar.
D’us viu que Abel O honrava com o melhor que tinha, enquanto o orgulhoso Caim trazia um sacrifício miserável. E porque Ele estava satisfeito com o sacrifício de Abel, D’us mandou um fogo do Céu que devorou o sacrifício de Abel e não o de Caim.
Caim ficou com ciúmes e com vergonha, porque D’us aceitou o sacrifício do irmão mais novo e não o seu. D’us viu o embaraço de Caim e falou-lhe, encorajando-o.
"Você pode melhorar se quiser," disse Ele. "Você não trouxe um sacrifício digno, mas pode aprimorar-se no futuro e tornar-se maior do que seu irmão Abel."
Mas, ao invés de fazer Teshuvá, Caim não quis escutar.
Quando Caim e Abel estavam juntos no campo, Caim começou a discutir com o irmão.
"Não é justo," queixou-se ele. "D’us aceitou seu sacrifício e não aceitou o meu."
"D’us é sempre justo," respondeu Abel. "Ele aceitou a minha oferenda porque Ele gostou do modo como o ofereci. Ele recompensa os tsadikim e castiga os resha'im."
"Você está errado," respondeu Caim.
Enquanto continuavam discutindo, Caim ficou irado, ergueu uma pedra e acertou na cabeçade Abel, matando-o.
Como Abel era um tsadic, sua alma voou direto para o Gan Eden e D’us lhe deu as maiores recompensas.
Caim queimou o corpo de Abel; depois, pegou todas as ovelhas do irmão e trouxe-as para sua própria tenda.
D’us perguntou a Caim:
"Onde está teu irmão Abel?"
"Eu guardo os campos", respondeu Caim, "devo guardar também meu irmão para saber onde ele está?"
Caim pensava que D’us sabia apenas o que se passava lá no alto e que não estava a par de tudo o que se passava na Terra. D’us falou:
"Eis que o sangue de seu irmão clama por Mim."
"Como podes saber?", falou Caim.
"Tolo, Eu sei tudo," respondeu D’us, "e vou castigá-lo. De agora em diante, quando você cultivar a terra, ela só produzirá uma pequena quantidade de grãos. Além disso, não poderá viver em paz em um lugar fixo; irá perambular de um país a outro."
Quando Caim ouviu as palavras de D’us, admitiu:
"Realmente, pequei muito. Tenho medo que enquanto perambular pela terra sem abrigo os animais me matarão."
"Vou protegê-lo," assegurou D’us, pondo em sua testa Meu Nome. Quando os animais a virem, ficarão com medo e não o atacarão."
Os descendentes de Caim foram maus; não sobrou nenhum, todos morreram mais tarde no Mabul (Dilúvio).
Adão teve um terceiro filho, Shais, e dele descendeu o justo Noé.
Nôach (Noé) é um justo em sua época
Durante as dez gerações que se seguiram a Adam e Chava (Adão e Eva), a Terra foi povoada. Mas, infelizmente, as pessoas começaram a idolatrar os astros julgando que fossem deuses, reis soberanos do universo. Rezavam para o Sol e para a Lua, para imagens de madeira ou pedra e cada vez mais surgia uma infinidade de outros objetos a serem adorados e glorificados. Foi então que D'us irou-se.
D'us, o verdadeiro Criador do universo, poderia ter castigado imediatamente os pecadores, mas não o fez. Aguardou, pois tinha esperança de que as pessoas se arrependessem de praticar a idolatria e servissem somente a um D'us único, reconhecendo Sua grandeza.
Porém, as pessoas não melhoravam; ao contrário, cada geração pensava em maneiras de obter novos ídolos e novas maneiras de servi-los. As pessoas que viveram na décima geração após Adam desceram a um nível mais baixo ainda; além de servir aos ídolos, seu comportamento imoral os rebaixou de tal modo que agiam como animais, e não como seres humanos criados à semelhança do Criador. Praticavam atos imorais, matavam e roubavam uns aos outros, não se importando com a vida nem com a propriedade alheia. Praticavam estes atos abertamente em público, pois não fazia diferença alguma, já que ao serem julgados em um Tribunal, o próprio juiz e testemunhas - por serem igualmente inescrupulosos - nem se davam ao trabalho de punir os culpados.
Uma pessoa mais forte fazia questão de oprimir o mais fraco. Se houvesse alguém querendo desposar uma moça, surgia um homem mais forte declarando que ela lhe pertencia e casaria com ela antes.
Só havia duas pessoas que praticavam a justiça aos olhos de D'us: Nôach e sua mulher Naama. Eles souberam ensinar seus três filhos a serem igualmente justos. Quando Nôach viu que todos os vizinhos eram perversos, raciocinou: "Se permanecer próximo a eles, também me tornarei perverso pelo convívio."
Por este motivo, Nôach decidiu morar num local conhecido apenas por ele e sua família. Passava o tempo estudando os livros sagrados. Possuía o livro que os anjos tinham escrito para Adam e um outro livro sagrado que recebera de seu bisavô, Chanoch. Através destes livros, Nôach aprendeu como rezar e servir a D'us. Enquanto Nôach se elevava e crescia em santidade, o mundo lá fora tornava-se cada vez mais depravado, chegando a um nível que não merecia mais existir. Foi então que D'us revelou a Nôach:
"Até agora, fui paciente. Esperei que esta gente perversa melhorasse sua conduta, mas é inútil. Estão sempre pensando em cometer atos piores. Mesmo à noite, enquanto estão deitados em suas camas, fazem novos planos para praticar maldades no dia seguinte. Portanto, vou destrui-los, junto com os animais, pássaros, árvores, a relva e até mesmo o solo. Mas você, Nôach, e sua família, serão poupados."
Porque D'us mandou o dilúvio como castigo
D'us disse a Nôach: "Hei de cobrir o mundo com uma terrível inundação. Tudo que encontra-se abaixo do firmamento será destruído."
D'us poderia ter destruído o mundo enviando, ao invés do dilúvio, uma peste, animais selvagens, um incêndio ou ainda qualquer outra força destrutiva.
Por que, entre tantas outras formas de destruição, Ele escolheu justamente as águas?
Uma das respostas é explicada através da seguinte parábola:
O rei e as pessoas mudas
O rei estava de bom humor. Anunciou a seu ministro:
"Desejo alegrar algumas pessoas desafortunadas. Convide ao meu palácio um grupo de pessoas pobres e mudas. Trate-as generosamente! Dê-lhes comida requintada e vista-as lindamente."
O grupo de pessoas mudas foi convidado e todos passaram um tempo muito agradável. Jamais sonharam haver no mundo coisas tão prazerosas. Sua gratidão para com o rei não tinha limites. As infelizes criaturas não podiam falar, mas quando o rei passava, todos se levantavam e se curvavam, acenando com as mãos e mostravam a ele, na linguagem dos sinais, o quanto apreciavam o que estava fazendo por elas. Todas as manhãs, ao se levantarem, louvavam o rei na linguagem dos sinais.
O rei estava satisfeito por eles o honrarem deste modo. Estava tão contente que chamou o ministro e deu-lhe algumas instruções:
"Este grupo de pessoas mudas desfrutou de uma longa e agradável estadia em meu palácio. Despeça-os agora e convide em seu lugar um grupo de mendigos que falem. Eles louvarão meus atos nobres com palavras e não apenas com gestos e sentir-me-ei ainda mais honrado."
Então, um grupo de pessoas pobres e falantes foi convidado ao palácio e tratado com deleites que nunca haviam experimentado. Os mendigos estavam tão ocupados em divertir-se que esqueceram do rei a quem deviam sua boa sorte. Nenhum deles pronunciou uma palavra sequer de agradecimento e, quando o rei passava por eles, ignoravam-no completamente. Logo, os mendigos esperavam suas comodidades com naturalidade e exigiam prazeres como se lhes coubesse por direito. Certo dia, decidiram se apoderar do palácio e depor o rei. Enfurecido, este chamou o ministro:
"Expulse estes mendigos de meu palácio," ordenou ele. "Faria melhor convidando novamente os mudos; eles não podiam expressar sua gratidão com palavras, mas me honravam da melhor maneira possível. Estas pessoas falantes, porém, que poderiam me trazer tanta glória com o poder da fala, revoltam-se contra mim!"
A ordem do rei foi cumprida.
A chave para a parábola
Quando D'us criou o mundo, encheu-o com água. A água não podia louvá-Lo com palavras, mas fazia rolar suas ondas ruidosamente em alto e bom som, proclamando: "Como D'us é poderoso!"
D'us então disse:
"Se até a água canta Meus louvores, imagine o que farão os seres humanos que podem pensar e falar!"
Então o Criador removeu a água para os oceanos. Na terra seca, criou seres humanos dotados de inteligência. Porém, ao invés de louvar a D'us, revoltaram-se contra Ele, cometendo pecados. Ao invés de usar o cérebro e o poder da fala para objetivos positivos, tramavam atos maus, difamaram, insultaram e injustiçaram-se uns aos outros. Todas as gerações depois de Adam foram igualmente perversas. D'us observou seus atos tornarem-se cada vez piores e disse:
"Vou livrar-Me desta gente e trazer de volta a água que estava na terra no início da Criação. A água não pode pensar e nem falar, mas louva-Me, enquanto que as pessoas Me enfurecem com seus atos vis!"
Por esta razão, D'us trouxe o dilúvio à Terra, eliminando os perversos.
Nôach constrói a arca
D'us havia falado para Nôach sobre um poderoso dilúvio universal. Mas também assegurou a Nôach que ele e sua família estariam a salvo. Onde eles achariam um local seguro, que não pudesse ser invadido e destruído pelas águas? Nôach ouviu a resposta através desta ordem que veio de D'us:
"Construa para você uma arca (teva) de madeira. Ela flutuará sobre as águas."
Nesta arca especial, Nôach e sua família sobreviveriam à terrível inundação e estariam protegidos. Ela foi construída por Nôach seguindo todas as instruções recebidas por D'us:
"Construa a arca com trezentos amot (cerca de 180 metros) de comprimento, cinqüenta amot (cerca de 30 metros) de largura e trinta amot (18 metros) de altura. Deve ter três andares e conter trezentos compartimentos diferentes (segundo a opinião de alguns dos nossos Sábios, 900 compartimentos). Ponha uma janela para entrar claridade e construa o telhado inclinado para que a água escorra. Depois que estiver pronta, passe piche por dentro e por fora para evitar que a água entre por suas fendas."
Podemos imaginar a dificuldade na época para construir-se um barco nestas proporções. Nôach era completamente desprovido de instrumentos como serra elétrica ou brocas para desempenhar esta missão; construiu a arca manualmente. Levou cento e vinte anos para que terminasse sua obra.
Era precisamente o que D'us queria: dar a oportunidade para que os habitantes da terra se arrependessem de seus atos e fizessem teshuvá, retornassem ao bom caminho. Ele esperava que, durante estes cento e vinte anos, a notícia de que Nôach estava construindo uma arca se espalhasse pelo mundo inteiro para que desta forma fosse despertado o temor e arrependimento e apressasse as pessoas a corrigir suas falhas.
De fato, chegou aos ouvidos das pessoas a notícia de que um grande barco estava sendo construído por um homem.
"Por que você está construindo este barco? - perguntavam a Nôach.
"Estou construindo," explicava Nôach, "para me salvar do enorme dilúvio que D'us enviará sobre a terra. Ele exterminará todos vocês por causa de seus pecados."
As pessoas levaram a sério as palavras de Nôach? Nem um pouco. Suas vozes ribombavam com risos enquanto zombavam das palavras de Nôach.
"Quem se importa?" gritavam eles. "Somos tão fortes, que não tememos um dilúvio. Podemos subir nas árvores e nos telhados. Mesmo se as águas lá chegarem, seremos mais altos do que a inundação, porque somos gigantes."
De fato, as pessoas que viviam naquela época eram enormes.
Nossos Sábios explicam:
Porque as pessoas no tempo de Nôach não temiam uma inundação
Dois Sábios, Rabi Chiya e Rabi Yehudá, estavam passando por altas montanhas, entre as quais acharam ossos gigantescos.
"Estes ossos são restos mortais da geração do mabul (dilúvio)," disseram eles. "Vamos medi-los."
Cada osso era tão comprido que tinham que dar três passos para ir de um extremo ao outro!
"Agora compreendemos porque os contemporâneos de Nôach não tinham medo do dilúvio!" - exclamaram. "Eram verdadeiros gigantes! Acreditavam que nenhuma inundação pudesse ser tão grande a ponto de afogá-los, e achavam que evitariam que os poços profundos vertessem água apenas pisando sobre eles. Não é de admirar que tivessem certeza de sobreviver à maior das inundações."
D'us ordena a Nôach para trazer os animais para a arca e entrar com sua família
O som das marteladas espalhava-se no ar, o que não era motivo de alegria para Nôach, que sentia o fim da civilização aproximar-se a cada tábua colocada. Os avisos de Nôach eram sempre recebidos com risadas e palavras duras. Apesar disto, ele obedecia às ordens do Criador e continuou construindo até que o último prego estivesse no lugar.
Ao ficar pronta a arca, apesar de D'us sentir-se satisfeito por Nôach ter cumprido Sua ordem, estava infeliz por ter de destruir Sua criação. Disse então:
"Estou muito triste por ser forçado a destruir o mundo maravilhoso que criei em sete dias." E ordenou a Nôach: "Traga para a arca um macho e uma fêmea de cada animal não-casher e sete pares de cada espécie casher. Traga também suprimento de comida para um ano, para você e os animais."
Sete dias depois, a 17 de Cheshvan de 1656, começou a chover. D'us ordenou a Nôach e sua família: "Entrem na arca."
Nôach, sua mulher Naama e seus filhos Shem, Cham e Yefet, com suas esposas, entraram na arca.
A chuva era cada vez mais forte. Os oceanos, rios, lagos e riachos transbordaram até que a terra ficou inundada. Fontes quentes brotaram das profundezas da terra, partindo a crosta e jorrando água fervendo.
A água começou a subir cada vez mais alto. As pessoas compreenderam que as advertências de Nôach eram verdadeiras; subiram nos telhados e nas copas das árvores, mas as águas aumentavam cada vez mais. Muitos dos gigantes correram para escalar as montanhas. Mas as águas subiam mais e mais até que cobriram o topo das montanhas mais altas.
Algumas pessoas gritaram: "Vamos fugir para a arca para nos salvar!"
Mas, milagrosamente, D'us fez com que seus pés ficassem presos na água. Embora tentassem se mover para a frente, não conseguiam sair do mesmo lugar.
Alguns dos homens perversos gritavam: "Vamos virar a arca! Por que Nôach tem que se salvar?"
Mas, quando se aproximaram da arca, tiveram uma visão assustadora: leões surgiram rugindo ao redor da arca, prontos para devorar quem se aproximasse. D'us milagrosamente protegeu Nôach e sua família.
A chuva destruiu todos os seres vivos, homens e animais fora da arca. (Os peixes foram uma exceção, pois permaneceram vivos).
Nôach e sua família cuidam dos animais na arca
Não vamos pensar nem por um minuto que Nôach e sua família viviam confortavelmente e bem acomodados na arca enquanto o resto do mundo sofria lá fora. Eles tinham que alimentar milhares de animais que levavam na arca.
Tão logo Nôach adormecia, exausto após um dia de trabalho duro cuidando dos animais, era acordado por um grito estridente ou o rugido de um animal faminto. Num instante, Nôach arrastava-se cansado para fora da cama e começava a trabalhar, pois sabia que os animais dependiam dele para obter comida.
Seus filhos - Shem, Cham e Yefet - também passavam a noite acordados, os olhos vermelhos e cansados por falta de sono, pois também sentiam a grande responsabilidade de cuidar constantemente dos animais. Noite após noite, Nôach e sua família se privavam do sono reparador para atender aos chamados dos animais. Durante o dia também não era possível ter algumas horas de sossego, pois os zurros, latidos, rugidos e gorjeios não tinham fim.
Nôach e sua família também sofriam com o cheiro dos animais, que era forte e desagradável; entrava por suas narinas, irritando a garganta.
Além disso, ouviam o terrível estrondo das ondas furiosas do lado de fora da janela. Estavam assustados e tinham o coração paralisado de medo. Rezavam incessantemente, suplicando a D'us que os protegesse.
Por trabalharem tão intensamente com os animais e rezarem o tempo todo, Nôach e seus filhos se tornaram tsadikim (justos) ainda maiores. Agora realmente mereciam ser salvos.
D'us não permitiu que nenhum animal selvagem da arca fizesse mal a Nôach ou à sua família. Todos os animais selvagens da arca se portavam como se fossem mansos. Muitas vezes, Nôach pisava em cobras ou escorpiões, mas nunca foi picado. Apenas uma vez, Nôach estava atrasado com a comida do leão e este lhe deu uma forte patada na perna e Nôach saiu sangrando e mancando.
Nôach envia o corvo e a pomba
Após quarenta dias, a chuva parou. A terra, porém, ainda estava inundada e a água ainda cobria os picos das altas montanhas. Passaram-se mais cento e dez dias para a água começar a baixar. A arca deixou de flutuar e parou sobre as montanhas de Ararat. A água continuou a baixar até que os topos das montanhas puderam novamente ser vistos.
Quarenta dias depois, Nôach abriu uma janela da arca. Enviou um corvo para examinar se a água tinha baixado completamente. Talvez houvesse novamente grama ou folhas para alimentar os animais. Mas o corvo não se distanciava da arca, pois a terra ainda estava inundada. Voava em círculos ao redor da arca e Nôach compreendeu que o chão ainda estava cheio d'água.
Esperou mais sete dias e mandou uma pomba. Se ela encontrasse um ponto seco para pousar, Nôach saberia que a água finalmente havia desaparecido da superfície da terra. Mas o chão estava molhado demais para a pomba pousar e a ave regressou à arca. Nôach estendeu a mão fora da janela para apanhá-la.
Sete dias depois, mandou a pomba pela segunda vez. Nôach esperava que a terra estivesse seca. As horas se passaram e não havia sinal da pomba. Estaria o chão tão seco que ela havia encontrado um local para construir um ninho? Será que não mais voltaria para a arca? Perto do anoitecer, Nôach foi saudado por uma visão encorajadora: a pomba estava voltando para a arca com uma folha fresca de oliveira em seu bico.
Nôach esperou mais uma semana e enviou a pomba pela terceira vez. Desta feita, a terra estava suficientemente seca para a pomba nela se fixar permanentemente e a ave não voltou mais para a arca. Nôach sabia agora que a terra era novamente habitável.
Mais de um ano depois que Nôach entrou na arca, a 27 de Cheshvan de 1657, D'us ordenou a Nôach e a sua família:
"Saiam da arca!"
Nôach e sua família voltam para a terra
Quando Nôach e sua família saíram da arca, Nôach construiu um mizbêach (altar). Ele pensou, "Por que D'us me ordenou que trouxesse sete pares de animais casher para dentro da arca e não apenas um par? Com certeza queria que eu oferecesse os restantes em sacrifício para agradecer-Lhe por ter salvo a mim e a minha família do dilúvio e dos animais selvagens da arca."
Os sacrifícios de Nôach agradaram a D'us.
Quando Nôach e sua família voltaram para a terra firme, não havia árvore, grama ou pessoa alguma. Nôach e sua família eram os únicos seres humanos sobre uma terra que parecia um enorme deserto. Estavam assustados e tristes. Seriam capazes de construir um mundo novo?
D'us apareceu para Nôach e sua família e os abençoou, prometendo:
"Não temam! Hei de multiplicar vocês, e novamente haverá muitas famílias sobre a Terra. Não tenham receio de que os animais selvagens irão atacá-los porque são muito poucos. Irei protegê-los."
D'us permitiu a Nôach e a todos os homens comer a carne de animais. Até aquela época, só era permitido às pessoas comerem vegetais.
O sinal do arco-íris
Nôach pediu a D'us para que nunca mais mandasse outro dilúvio. O Criador prometeu-lhe:
"Nunca mais mandarei outra inundação que destrua o mundo inteiro.
"Como sinal de minha promessa, vou lhes mostrar o seguinte: De tempos em tempos, Meu arco-íris aparecerá nas nuvens. Este será um sinal de que me lembro da promessa de não trazer outra inundação."
Por isso, sempre que vemos um arco-íris, pronunciamos a bênção: "Baruch... zocher haberit veneeman bebrito vecayam bemaamarô"
"Abençoado és Tu, D'us, nosso D'us, Rei do Universo, Que lembras da promessa (de não destruir o mundo através de um dilúvio) e Que és fiel ao Teu acordo e mantém Tua palavra."
Nôach fica bêbado
Depois que Nôach saiu da arca, sentiu ser sua responsabilidade cultivar a terra deixada estéril pelo dilúvio.
Em primeiro lugar, Nôach plantou uma parreira. Quando as uvas ficaram maduras, espremeu-as e experimentou o vinho. Mas Nôach cometeu um erro: bebeu demais.
Nôach ficou bêbado e deitou no chão de sua tenda. Kenaan entrou e viu o estado de Nôach. Correu para fora e contou, rindo, para seu pai, Cham:
"Você sabia que o vovô está deitado no chão, bêbado? E está todo descoberto?"
O filho de Nôach, Cham, também riu e foi informar seus dois irmãos. Assim que Shem ouviu isso, disse:
"Vamos cobrir nosso pai."
Trouxe uma coberta e pediu que seu irmão Yefet o ajudasse a levar Nôach para a tenda. Os dois viraram os rostos para não verem seu pai descoberto.
Quando Nôach acordou da bebedeira, amaldiçoou o neto Kenaan e abençoou Shem e Yefet, que souberam honrar a seu pai.
Todos podemos errar algumas vezes, mesmo um pai. Porém, um filho deve honrar os pais e se portar sempre com respeito perante eles.
Os descendentes de Nôach
Os três filhos de Nôach - Shem, Cham e Yefet - tiveram filhos e muitos netos. Shem foi ancestral de Avraham (Abraão), antepassado do povo judeu.
A Torre de Babel
Somente trezentos anos se passaram após o dilúvio quando as pessoas perversas decidiram novamente se revoltar contra D'us.
O líder daquela geração era o rei Nimrod, monarca poderoso e forte. Em sua arrogância, afirmava ser um deus, porque queria dominar o mundo inteiro. Por isso, persuadiu as pessoas a não obedecer o Criador. Nimrod sugeriu:
"Vamos construir uma cidade na qual viveremos todos juntos. No meio da cidade, ergueremos uma torre bem alta. Se D'us mandar outro dilúvio, subiremos nela para ficarmos a salvo."
A idéia foi recebida com muito entusiasmo. Algumas pessoas levaram a idéia até um pouco mais além, incitando:
"Vamos pôr um ídolo no topo da torre. Colocaremos uma espada em sua mão como sinal de que ele está lutando contra D'us."
As pessoas uniram-se e juntas começaram a construir uma torre que levaria um ano para chegar ao topo.
D'us falou aos setenta anjos que ficam à Sua frente para servi-Lo:
"Desceremos e desfaremos todos os seus planos! Vou dividir este povo fazendo com que falem línguas diferentes."
Até então, todos os habitantes da Terra falavam hebraico.
D'us desceu com Seus setenta anjos. Cada anjo fez com que um grupo de pessoas falasse uma língua diferente.
A confusão que se formou foi incrível! Um homem disse a outro: "Dê-me um tijolo."
Ao invés disso, o outro pegou um martelo e bateu em sua cabeça. Um mal entendido levava a outro e logo reinava uma enorme confusão.
Os anjos espalharam as pessoas pelo mundo inteiro. Esta geração é chamada de Dor Hahaflagá, Geração da Dispersão, porque foram dispersos por D'us.
Por que não foi destruída esta geração perversa como foi exterminada a geração do dilúvio? As pessoas que construíram a Torre de Babel agiram em paz e com amizade entre si; não havia discórdia entre eles como na geração do dilúvio. Isto era tão importante para D'us que, apesar de elas terem se revoltado contra Ele, não as destruiu.
A história a seguir mostra-nos a importância da paz e da amizade:
Uma história:
Alexandre, o Grande, e o povo altruísta
O poderoso imperador Alexandre, O Grande, viajou por muitos países. Certa vez visitou um reino longínquo atrás das escuras montanhas da África.
O rei daquele país deu as boas-vindas a Alexandre e ofereceu-lhe um lindo presente: pães de ouro sobre bandejas de ouro.
"Não vim aqui para ver teus tesouros," disse-lhe Alexandre.
"Então por que viestes?" - indagou-lhe o rei.
"Queria ver como julgas as pessoas no teu país," respondeu Alexandre. "Ouvi dizer que teu julgamento é justo e bom."
Enquanto conversavam, chegaram duas pessoas para serem julgadas pelo rei.
O primeiro homem estava tão transtornado que mal podia conter sua aflição.
"Comprei um campo deste homem," falou nervoso, "e nele encontrei um tesouro. Quero devolver-lhe o tesouro. Comprei somente o campo e não o tesouro. Não quero ficar com o que não me pertence!"
O outro homem, porém, se ateve a sua posição com firmeza.
"Vendi o campo com tudo o que contém," insistiu ele. "O tesouro é teu e não vou ficar com ele."
Os dois homens continuaram a discutir. Cada um insistia que o tesouro pertencia ao outro. Alexandre estava espantado:
"Como julgas este caso?" - perguntou, incrédulo para o rei.
O rei virou-se para o primeiro homem e perguntou:
"Tens um filho?"
"Sim," respondeu o homem.
"Tens uma filha?", perguntou para o segundo homem.
"Tenho," respondeu o segundo homem.
"Decido o seguinte," disse-lhes o rei. "Casem o filho dele com a filha do outro e dêem o tesouro para o jovem casal."
Alexandre ficou surpreso com esta decisão.
"Por que estás tão surpreso?" - perguntou-lhe o rei. "Não julguei bem? Como terias decidido em teu país?"
Alexandre respondeu:
"Provavelmente teriam prendido os dois homens e o tesouro seria confiscado pelo governo."
"As pessoas em teu país são tão ávidas por dinheiro?" - perguntou o rei, chocado. "O sol brilha em teu país e a chuva cai?"
"Certamente," respondeu Alexandre.
"Bem," concluiu o rei, "D'us não lhe dá sol e chuva pelo mérito das pessoas. Pessoas que brigam entre si e cobiçam as posses dos outros não merecem nem o sol, nem a chuva. D'us tem misericórdia dos animais e é só por mérito deles que cuida de seus país."
Avram protesta contra a adoração de ídolos
Dez gerações depois de Nôach nasceu Avram (Abrão).
Novamente, todas as pessoas no mundo adoravam ídolos. Serviam ao sol, à lua e a muitas espécies de ídolos.
O pai de Avram, Têrach, era um homem muito ocupado. Por isso, pediu ao tio de Avram, Nachor, que cuidasse do menino.
A casa de Nachor, assim como a de todos, estava cheia de imagens; algumas de prata, ouro e cobre e outras de madeira. Nachor ensinou a Avram:
"Curve-se perante os deuses, Avram, pois eles são muito poderosos. Se não servir-los corretamente, castigá-lo-ão."
"Como são poderosos?" - perguntou o menino. "Não podem falar nem se mover!"
"Cada um deles governa outra parte do mundo, Avram.", lhe explicou Nachor. "Nimrod, nosso rei, é um deus. É mais poderoso que todos os outros deuses."
"Como uma pessoa pode ser um deus, tio?", perguntou Avram.
"Fica quieto, menino, não deves falar assim." - respondeu Nachor. "Se Nimrod te ouvir, vingar-se-á. Ouve o que lhe digo."
O pequeno Avram não estava satisfeito. Ninguém respondia satisfatoriamente a suas perguntas. Quem havia criado o mundo? Quem o havia feito e a todas as pessoas que o rodeavam?
Talvez o sol fosse um deus, pensou, pois era tão poderoso, Iluminava o mundo e fazia crescer as plantas. Porém, Avram observou que o sol apenas nascia e se punha todos os dias seguindo um padrão pré-estabelecido. Não tinha a capacidade de criar outros seres. Seria a lua, então, um deus? Não, tanto o sol como a lua agiam como servos que obedecem a ordens de terceiros.
Porém a quem obedeciam? Avram tinha apenas três anos quando descobriu, por si mesmo, a resposta. Compreendeu que o sol, a lua, o vento, a chuva, e toda a natureza seguem as ordens de D'us. Ele é o Criador Todo-Poderoso. Pode não ser visível, porém, Avram entendeu que o mundo é dirigido por Ele.
Avram disse, então, a seu tio Nachor e ao pai Têrach que não se curvaria perante os deuses. Somente perante D'us. Insistiu que eles também deveriam deixar de prostrar-se aos deuses. Mas não lhe deram atenção.
Quando Avram cresceu, seu pai Têrach deu-lhe um saco cheio de ídolos e lhe disse: "Vá e venda-os no mercado".
Avram levou consigo um martelo. Quando um cliente se aproximava e lhe pedia um ídolo, Avram batia na cabeça do ídolo com o martelo.
"Você quer ficar com este?" - perguntava para o cliente.
Em seguida, dava um golpe na cabeça do próximo: "Ou prefere este?" - perguntava.
Quando as pessoas viram como os ídolos permaneciam imóveis mesmo quando eram golpeados na cabeça, desistiam da compra.
Outra vez, Avram levou um saco cheio de ídolos para o mercado. Chegando lá despejou todo seu conteúdo. Em seguida, destruiu os ídolos na frente de todos.
Certa vez Têrach viajou. Avram pediu para sua mãe: "Por favor, sacrifique uma ovelha e prepare uma comida saborosa. Quero oferecê-la aos deuses do meu pai para que se sintam agradecidos."
A mãe preparou uma comida deliciosa e Avram colocou-a na frente dos deuses.
"Comam", lhes disse. Mas nenhum dos deuses provou a comida.
Avram riu: "Talvez não gostem deste prato", disse aos deuses, "ou pensam que não lhes trouxe comida suficiente. Amanhã lhes servirei algo melhor".
No dia seguinte disse à mãe: "Os deuses não gostaram da comida de ontem. Por favor prepare uma refeição mais farta e melhor hoje!"
Sua mãe assim o fez. Avram pôs uma comida farta e deliciosa perante os deuses.
"Tomem", disse-lhes.
Sentou-se próximo aos deuses para observar se comiam, e assim ficou o dia todo. Nenhum dos ídolos se mexeu.
Nesta noite Avram estava furioso." Ai do meu pai e toda esta geração", exclamou. "Servem ídolos que não podem caminhar, nem mexer-se, nem escutar, nem enxergar ou cheirar".
Avram pegou o machado de seu pai, e destruiu todos os ídolos, com exceção do maior.
Neste momento, Têrach regressava de sua viagem, escutou os golpes do machado e o barulho de madeira e metal sendo destruídos.
"O que será isto?", exclamou. "Parece vir da sala do templo".
Correu para dentro. Avram acabava de terminar sua obra de destruição. Deixara apenas o ídolo maior, e havia colocado o machado em seus braços.
"Por que destruíste meus deuses?", gritou Têrach.
"Não fui eu", respondeu Avram. "Brigaram pela comida que lhes dei e o maior deles pegou o machado e quebrou os demais".
"Mentiroso!", replicou Têrach. "Não podem quebrar uns aos outros! Nem sequer podem mover-se!".
"Pai", disse Avram. "Então por que os serve? Por que deposita sua confiança nestes ídolos? Podem te salvar do perigo? Podem ouvir suas preces?"
"Estás cometendo um grave erro em adorar estas imagens. Tu e todos os outros esqueceram de D'us, o verdadeiro e único Criador do Céu e da Terra. Nossos antepassados também se esqueceram Dele e por isso D'us mandou o dilúvio. Por que então você deixa-O novamente aborrecido?"
Rapidamente, Avram pegou o machado, despedaçou o último e maior ídolo e saiu correndo da casa. Têrach estava furioso. Ele era um súdito leal do rei e a conduta de Avram não podia ser ignorada. Têrach foi ao palácio do Rei Nimrod e disse ao rei:
"Deves julgar meu filho por se revoltar contra os deuses."
Avram é trazido à presença do Rei Nimrod e posto na prisão
Nimrod mandou seus soldados prenderem Avram e trazê-lo ao palácio.
Nimrod perguntou a Avram, com severidade:
"Por que você quebrou os ídolos do seu pai?"
"Não fui eu," respondeu Avram. "O maior quebrou os demais."
"Vamos", repreendeu Nimrod. "Você realmente pensa que vou acreditar em tais histórias? Sei que os deuses não podem se quebrar uns aos outros; eles não se mexem."
Avram censurou Nimrod na frente de todos seus servos:
"Então por que os adora? Por que não serve a D'us Que governa o mundo, Que te criou, Que vai fazê-lo morrer e Que pode ressuscitá-lo? Ai de ti, rei perverso e bobo! Deverias mostrar o caminho certo para todos. Em vez disso, tu e teus servos fazem com que as pessoas pequem."
"Não sabes que por causa de pecados como os seus, D'us mandou o dilúvio para nossos antepassados? Se continuares servindo aos deuses, tu e todos que te seguirem também morrerão em vergonha e desgraça. D'us irá castigá-los."
"Chega!" - gritou Nimrod. "Para a prisão com ele!"
Avram foi lançado na prisão e mantido lá por dez anos.
Avram é jogado numa fornalha
Depois de dez anos difíceis, Avram foi novamente trazido à presença de Nimrod, que ainda esperava convencê-lo a se curvar aos ídolos.
"Agora vais te prostrar aos deuses?" - perguntou o rei para Avram.
"Só me curvo perante o Criador do Mundo," respondeu Avram.
"Eu sou o criador!" - afirmou Nimrod com orgulho.
"Podes ordenar ao sol para nascer a oeste e se pôr a leste?" - perguntou-lhe Avram. "Então acreditarei que você é o Criador."
Nimrod se virou para os sábios e para os príncipes a sua volta.
"Que castigo merece este homem?" - ele perguntou. "Julguem-no."
Todos responderam:
"O homem que despreza o rei e seus deuses deve ser queimado."
Para tal, foi preparada uma enorme fornalha na cidade de Kasdim. Com grande júbilo, os oficiais do rei a esquentaram durante três dias e três noites.
A notícia espalhou-se rapidamente. Chegou gente de todas as partes do mundo a Kasdim para presenciar o grande acontecimento. Frente a uma grande multidão de espectadores, Avram foi agarrado e jogado nas chamas.
D'us falou para os anjos:
"Avram foi fiel a Mim. Eu Mesmo vou salvá-lo."
O Criador então ordenou que as chamas não causassem mal algum a Avram, mas que apenas devorassem as cordas que o amarravam.
Para a multidão que observava o acontecimento, tudo parecia correr conforme o planejado. As chamas da fornalha subiam ao céu. Era um fim apropriado para um traidor, murmurava o povo; logo, nada sobraria dele.
A multidão se dispersou, mas os servos de Nimrod ficaram perto da fornalha até que as chamas terminassem seu trabalho. De repente, soltaram uma exclamação de surpresa. Os olhos se arregalaram de terror. Os queixos caíram de espanto. Pois Avram estava milagrosamente vivo dentro da fornalha, caminhando lá dentro! As chamas haviam queimado apenas as cordas que o amarravam, mas não chamuscaram suas roupas ou o corpo.
Agitados, os servos correram para informar o milagre ao Rei Nimrod. No começo, Nimrod não acreditou no que estava ouvindo, mas quando os servos confirmaram a notícia, Nimrod foi pessoalmente olhar dentro da fornalha.
Era verdade! Avram estava andando dentro dela como se passeasse num jardim!
"Saia, Avram," chamou Nimrod, com voz trêmula. "Prometo que não farei nenhum mal a você."
Avram saiu da fornalha são e salvo.
Tremendo, Nimrod e seus servos se inclinaram para Avram. Estavam convencidos de que ele deveria ser um deus!
"Foi D'us, o Criador do mundo Quem me salvou!" - explicou-lhes Avram. "Curvem-se perante Ele!"
Haran, o irmão mais moço de Avram, estava indeciso se deveria ouvir Avram e crer em D'us ou seguir o Rei Nimrod e se curvar perante os ídolos. Mas, quando Haran viu Avram sair vivo do fogo, anunciou confiante:
"Eu também creio em D'us!"
Os oficiais do Rei Nimrod agarraram Haran e o jogaram nas chamas. Mas ele não mereceu o grande milagre de ser salvo como o tsadic Avram.
Têrach, Avram e suas famílias mudam-se para Charan
Apesar de Avram ter sido salvo diante dos olhos de Nimrod, Têrach percebeu que o perigo ainda não havia passado. O perverso Nimrod poderia decidir matar Avram outra vez. E quem poderia saber se D'us realizaria outro milagre?
"Vamos deixar esta terra," aconselhou Têrach a Avram. "Iremos para a terra de Canaã onde Nimrod não governa."
Por que Têrach, de repente, achava que seu filho Avram deveria se pôr a salvo do Rei Nimrod? Não havia sido o próprio Têrach que pediu ao rei que castigasse Avram porque não ter acreditado nos ídolos?
Mas, após presenciar o grande milagre que aconteceu a Avram, Têrach mudou de idéia. Começou a acreditar que D'us era o Mestre do Mundo. Muitos anos depois, antes de morrer, Têrach abandonou definitivamente a adoração aos ídolos e fez completa teshuvá.
Avram concordou com a sugestão do pai de se mudar para a terra de Canaã.
Têrach, Avram e suas famílias partiram para Canaã. No caminho, passaram por um lugar chamado Charan. Têrach viu que lá estariam a salvo, pois aquele lugar estava fora dos domínios de Nimrod. Por isso Têrach decidiu:
"Vamos ficar aqui!"
D'us ordena a Avram para deixar seu pai e viajar para Terra de Canaã
Enquanto Avram e sua mulher Sarai moraram em Charan, ensinaram aos outros sobre D'us. Avram educou os homens, e Sarai as mulheres, para acreditarem no único D'us que criou o Céu e a Terra.
D'us viu que não havia nenhum tsadic (justo) igual a Avram. Por isso Ele decidiu fazer de Avram o pai de uma nação sagrada, o povo de Israel.
Ele disse para Avram, "Não é correto para você viver nesta terra ímpia, junto com seu pai e sua família que veneram ídolos.
"Saia daí e vá para a terra que Eu vou lhe mostrar."
Porque D'us não contou a Avram o nome da terra para a qual Ele queria que Avram fosse - Canaã (que é um outro nome para a Terra de Israel)?
D'us estava testando Avram. Será que ele ouviria D'us e iria para um lugar que nem sequer conhecia?
D'us também não queria que o pai de Avram, Têrach, fosse junto com ele.
Têrach poderia estar interessado em se estabelecer na Terra de Israel junto com o filho. Mas como Avram não sabia para onde estava se dirigindo, disse a seu pai: " D'us pode me ordenar viajar até o fim do mundo!"
Quando Têrach ouviu isso, preferiu ficar em Charan.
Avram disse a sua mulher, Sarai, "Não vamos nos atrasar nem um dia. Partiremos imediatamente."
Avram levou junto seu sobrinho Lot, irmão de Sarai, que era órfão, e tinha sido criado por eles. Muitas das pessoas a quem Avram e Sarai tinham ensinado a acreditar em D'us também decidiram acompanhá-los em sua jornada.
D'us enviou nuvens na frente de Avram e sua família para lhes indicar o caminho pelo qual Ele queria que seguissem.
Avram viaja de Canaã até o Egito
Pouco depois que Avram, Sarai e sua família chegaram a Canaã, a chuva parou de cair. As plantas deixaram de crescer. Logo não havia mais frutas, vegetais, nem grãos. As pessoas ficaram cada vez mais famintas. D'us provocou essa situação para submeter Avram a um novo teste.
Será que ele agora iria se queixar: "Não é justo! Primeiro D'us me mandou para Canaã e agora não tenho nada para comer aqui!"?
Mas Avram nunca se queixou. Estava convencido de que tudo que D'us faz tem uma boa razão.
Avram disse para Sarai, "Vamos para o Egito. O Egito possui muita comida. Mesmo que não chova, o rio Nilo irriga a terra". Mas alguma coisa estava incomodando Avram. Ele disse, "Não me sinto bem em ir ao Egito. Geralmente, nós é que convidamos as pessoas para casa, e lhes oferecemos uma refeição. Quando querem nos agradecer explicamos que é D'us quem alimenta a todos. Assim transmitimos ensinamentos às pessoas. Mas o Egito é um país muito rico. As pessoas não necessitarão da nossa comida. Tenho medo de que não vamos poder ensinar a outros sobre D'us." Contudo, Avram não tinha outra escolha a não ser ir para o Egito.
Quando Avram, Sarai e Lot se aproximaram da fronteira do Egito, Avram disse: "Os egípcios são pessoas perversas. Quando vêem uma mulher casada bonita, matam o marido e ficam com a mulher.
"Sarai, por favor, diga a todos que você é minha irmã. Então não me matarão. Isso não é uma mentira, porque você é neta do meu pai e uma neta é considerada uma filha."
Como precaução adicional, Avram escondeu Sarai numa caixa grande. Esperava que ela não fosse descoberta.
Mas os oficiais reais da alfândega abriram a caixa e acharam Sarai. Mandaram a seguinte mensagem ao Rei Faraó. "Chegou aqui uma mulher bonita junto com o irmão."
Faraó mandou seus soldados para trazer Sarai para sua corte. Faraó disse para Sarai: "Você tem que se tornar minha mulher." Ao "irmão" de Sarai, Avram, Faraó deu muitos presentes para que ele concordasse que Faraó ficasse com Sarai. Sarai disse para Faraó, "Sou uma mulher casada! Você não pode me segurar no palácio. Devolva-me para Avram."
Mas Faraó não lhe deu ouvidos.
Sarai estava amedrontada e rezou a D'us para que a ajudasse. D'us mandou um anjo para cuidar de Sarai e protegê-la. Cada vez que Sarai ordenava ao anjo: "Golpeie Faraó", o anjo castigava Faraó.
Faraó foi atacado com dez pragas diferentes. D'us também puniu a família de Faraó com pragas. (Da mesma forma, D'us puniria mais tarde o Faraó que afligiu os israelitas com dez pragas.)
Faraó sofreu terrivelmente com as pragas. Percebeu, então que Sarai era uma mulher muito justa e íntegra, uma tsadeket, que estava sob a proteção de D'us.
Enviou uma mensagem para Avram: "É tudo culpa sua! Porque não me disseste que esta mulher é casada com você? Agora pegue-a e deixe este país imediatamente, antes que outra pessoa tente fazer-lhe mal."
Faraó estava tão assombrado pela grandeza de Avram e Sarai que mandou com eles, sua filha, a princesa Hagar, para servir Sarai e aprender o seu modo de vida.
Faraó deu para Avram e Sarai presentes valiosos. Mandou também soldados para acompanhá-los de volta à fronteira do Egito.
Isso era inédito! Os egípcios mal podiam acreditar. O seu rei efetivamente havia libertado uma mulher que queria para si e não matou o marido! Isso nunca tinha acontecido antes. Agora todos compreenderam que Avram era um grande tsadic e Sarai uma tsadeket. D'us os protegeu. Ninguém, nem mesmo um rei podia fazer-lhes mal.
D'us fez com que todo esse episódio ocorresse para que Avram e Sarai ficassem famosos como amigos especiais de D'us.
A viagem de Avram e Sarai ao Egito também fez com que Hagar se unisse a eles.
Avram se separa de Lot. Lot se estabelece em Sodoma
Avram era um homem muito rico porque D'us o abençoou. Tinha muitos bois e ovelhas, ouro e prata.
O sobrinho de Avram, Lot, que viajou com ele, também tinha grandes riquezas, não porque fosse um tsadic, mas porque estava junto com o tsadic Avram.
Então surgiu uma briga entre os pastores de Avram e os pastores de Lot.
Avram costumava ordenar a seus pastores, "Nunca deixem meus animais entrar nos campos de outros. Se meus animais pastarem nesses campos, estarei roubando o pasto de outras pessoas. Mesmo que D'us tenha prometido que toda Terra de Canaã pertencerá um dia aos meus filhos, ainda não é minha."
Os pastores de Avram punham focinheiras nos animais cada vez que passavam diante dos campos que não lhe pertenciam. Ordenaram aos pastores de Lot que fizessem o mesmo. Mas estes não puseram focinheiras nos seus animais. Afirmavam, "Em breve, a terra vai pertencer a Lot, visto que Avram não tem filho." E assim eles permitiam que os animais de Lot comessem nos campos de outras pessoas. Os pastores de Avram insistiam em argumentar com eles que estavam errados, e os pastores de Lot, por sua vez, os contradiziam.
Avram disse a Lot, "Não é bom que briguemos. As pessoas vão dizer, 'Avram e Lot são parentes e não vivem em paz.'
"Por isso é melhor nos separarmos. Você pode escolher se quer se estabelecer ao sul ou ao norte da terra. Se você for para o norte, irei para o sul, e se você for para o sul, irei para o norte. Não precisa se preocupar de que estarei muito longe para ajudar, se precisar de mim. Vou estar perto o suficiente para vir em seu auxílio."
Lot decidiu se estabelecer na cidade de Sodoma (Sedom). Sodoma e as quatro cidades vizinhas estavam localizadas às margens de rios; seu solo estava por isso bem irrigado. E havia ali ótimas terras de pasto para o gado de Lot.
A decisão de Lot foi um erro, porque os habitantes de Sodoma eram os piores de toda Terra de Canaã. Eram ladrões e assassinos. Naqueles tempos, o pior insulto que você podia fazer a alguém era chamá-lo de sodomita!
Lot cometeu dois erros:
1. Separou-se do tsadic Avram.
2. Estabeleceu-se entre perversos.
Lot deixou de ver o mau caráter dos sodomitas porque esperava enriquecer em Sodoma. Mas no final ele saiu arruinado, como veremos na próxima porção da Torá.
O que podemos aprender de Lot?
Nossos Sábios nos dizem (Ética dos Pais 1:7) "Afaste-se de um mau vizinho e não se associe com um perverso". Somos aconselhados a nos unir a amigos que nos incentivam a ser bons e praticar o bem. E precisamos nos afastar daqueles que nos influenciam a agir erradamente.
Avram vence uma guerra contra quatro reis
Era a época de Pêssach e Avram estava ocupado assando matsot. (Apesar da Torá ter sido dada só depois da época de Avram, Avram mantinha todas as mitsvot da Torá). De repente ele viu um gigante aproximando-se de sua tenda.
Era Og, o único gigante que ainda estava vivo desde antes do dilúvio.
Og contou a Avram: "Venho direto do campo de batalha. Deixe-me relatar o que aconteceu. O rei de Sodoma e outros quatro reis se revoltaram contra o poderoso Rei Kedarlaomer, depois de o terem servido por doze anos. Kedarlaomer chamou outros três reis para ajudá-lo na guerra contra os cinco reis rebeldes. Kedarlaomer e seus três aliados ganharam a guerra. Capturaram todo o povo de Sodoma como prisioneiros e o seu sobrinho Lot se encontra entre eles. Em seguida, Kedarlaomer e suas tropas marcharam para o norte."
O gigante Og pensou, "Quero que Avram tente salvar seu sobrinho Lot dos quatro reis. Os quatro reis certamente vão matar Avram na batalha. Então pegarei para mim sua mulher, Sarai."
Avram pensou, "Lot está em apuros. Vou preparar uma enorme soma de dinheiro. Talvez eu possa resgatá-lo. Se não, lutarei para libertá-lo."
Avram reuniu seus alunos e servos. Juntos eram trezentos e dezoito pessoas.
Ele anunciou, "Estou indo para ajudar Lot, que está em cativeiro. Quem não tem medo, que me siga."
Avram tinha três alunos que eram príncipes emoritas - Aner, Eshcol e Mamrê. Eles se ofereceram, "Nós vamos proteger seus bens enquanto você está fora."
Os quatro reis já tinham viajado para o norte, até a Síria, mas D'us milagrosamente encurtou o caminho para Avram e seus homens.
O exército de Kedarlaomer era imenso, milhares e milhares de soldados. Avram não se atreveria a atacá-los, mas quando olhou para cima, viu a Shechiná (Divindade) e as Hostes Celestiais ao seu lado, pronto para ajudá-lo.
Com a ajuda de D'us, Avram, seu servo Eliêzer e o restante de seus homens, obtiveram uma vitória milagrosa sobre os quatro poderosos reis e seus exércitos.
Avram libertou Lot e todos os prisioneiros.
Entre os reis inimigos a quem Avram matou estava também Nimrod, que tinha jogado Avram no forno.
Shem, também chamado Malki Tsêdec, dá as boas vindas a Avram. Avram se recusa a pegar qualquer objeto dos despojos da guerra
O filho de Nôach (Noé), Shem, ainda vivia. Era um tsadic que sempre serviu a D'us. Ele se mudou para Yerushaláyim (Jerusalém, que naquele tempo se chamava Shalem) e lá, regularmente, oferecia sacrifícios a D'us. Era conhecido como "Malki Tsêdec", que quer dizer "rei justo" e também quer dizer "rei da cidade da justiça."
Malki Tsêdec ficou sabendo a respeito da milagrosa vitória de Avram sobre os quatro reis. E quando Avram voltava da guerra e se aproximava de Yerushaláyim, Malki Tsêdec saiu para receber Avram e louvar a D'us. Trazia consigo pão e vinho para alimentar os homens cansados e famintos.
O rei de Sodoma também saiu ao encontro de Avram. Disse para Avram, "Todo nosso dinheiro que você recuperou dos inimigos pertence a você. Por favor, devolva-me apenas os prisioneiros que você libertou!"
Avram ergueu sua mão para D'us e exclamou, "Juro que não tocarei em nenhuma parte do despojo desta guerra! D'us prometeu me abençoar com riquezas e já cumpriu Sua promessa. Possuo muito gado, ouro e prata. Se eu pegar seu dinheiro, você pensará "Eu enriqueci Avram." Um décimo do dinheiro dei para Malki Tsêdec que é o cohen (sacerdote) de D'us. Outro décimo darei aos homens que me ajudaram e também para Aner, Eshcol e Mamrê, que cuidaram dos meus pertences. Para mim não quero nada dos seus haveres, nem mesmo um fio ou cordão de sapato."
O Midrash explica: D'us recompensa Avram
D'us disse, "Avram, todos os despojos da guerra na verdade pertenciam a você. Mas você está satisfeito com o que já tem. Hei de recompensá-lo. Você disse, "Não quero nada nem um fio ou um cordão de sapato." Como recompensa, darei aos seus descendentes a mitsvá (preceito) de tsitsit, que tem quatro [duplos] fios em cada canto. Por suas palavras, "Nem um cordão de sapato", vou recompensá-los com a mitsvá de chalitsá, pela qual a mulher tem que abrir o cordão do sapato do seu cunhado."
Vemos que Avram não perdeu nada quando recusou o dinheiro que o rei de Sodoma lhe ofereceu. D'us recompensou seus descendentes com duas mitsvot. Além disso, mais tarde, D'us conferiu a Avram grandes bênçãos.
D'us promete a Avram que os seus descendentes serão tantos quanto as estrelas
Depois de ganhar a guerra contra os quatro reis, Avram estava preocupado, "Talvez os amigos desses poderosos reis vão se unir contra mim e me atacar?"
Mas D'us lhe assegurou, "Avram, mesmo que todos seus inimigos se unam contra você, Hei de protegê-lo."
Avram também se preocupou pelo seguinte, "Talvez já tenha usado toda a recompensa que me estava reservada para olam habá (mundo vindouro), porque D'us realizou para mim milagres tão grandes."
D'us lhe assegurou, "Ainda tens uma grande recompensa no olam habá."
Avram então rezou, "D'us, foste tão bondoso em fazer milagres para mim durante a guerra. Sei que me reservaste ainda mais bênçãos. Mas, para que me servem? Não tenho um filho que possa continuar a ensinar as pessoas sobre Ti depois que eu morrer. Em vez disso, meu servo Eliêzer ficará como líder."
"Não temas" D'us consolou a Avram. "Terás um filho."
D'us conduziu Avram para fora da tenda.
"Olhe para o firmamento," ordenou Ele.
Avram viu uma grande estrela brilhar no firmamento.
"Esta estrela representa você," disse-lhe D'us. "Você é como uma grande estrela que ilumina o mundo. Agora olhe de novo!"
Avram viu duas estrelas. "Estas duas estrelas são você e seu filho," disse-lhe D'us.
Então Avram viu aparecer três estrelas. "Elas representam você, seu filho e seu neto," disse D'us.
Quando Avram olhou de novo para o firmamento, havia lá doze estrelas.
"Haverá doze tribos," explicou-lhe D'us.
De repente havia setenta estrelas. "Você terá setenta descendentes indo para o Egito," predisse D'us.
Logo, todo o firmamento se cobriu de estrelas de um extremo ao outro.
"Tão numerosos serão os seus descendentes!" Prometeu D'us para Avram. "Serão demais para poder contar."
Berit Ben Habetarim: D'us promete a Avram que seus filhos herdarão Canaã
D'us também prometeu a Avram, "Seus filhos herdarão a Terra de Canaã (Terra de Israel)!"
"Por favor D'us," pediu Avram, "Dê-me um sinal de que isto se concretizará realmente".
D'us respondeu, "Farei um acordo contigo como sinal."
Naqueles tempos as pessoas selavam um pacto, cortando animais em pedaços e andando entre eles. (Esse era uma maneira de dizer, "Se eu não cumprir a minha parte do acordo, mereço ser cortado em pedaços como estes animais.")
D'us ordenou a Avram, "Pegue três bezerros, três cabras, três carneiros, um pombo e uma pomba." Avram assim o fez. Então ele cortou os animais em dois, exceto os pássaros que D'us lhe disse para não cortar.
Avram arrumou os pedaços em duas filas. Quando eles foram estendidos, poderosas aves de rapina se precipitaram do céu para baixo para devorá-los.
Avram os enxotou.
Esse foi um sinal: No futuro, os idólatras - que são comparados a aves de rapina - tentarão destruir os descendentes de Avram, o povo judeu. Mas D'us salvará os judeus pelo mérito de seu antepassado Avram.
Então D'us fez Avram cair num sono profundo e lhe mandou um sonho profético.
Avram sentiu um grande temor e uma escuridão o envolveu. Isso era um sinal de que os seus descendentes, os judeus, passariam por dificuldades.
D'us predisse a Avram, "Saiba que os seus descendentes não virão para Terra de Israel imediatamente. Primeiro, vou exilá-los em terras estranhas por muitos anos. Tornar-se-ão escravos [no Egito] e serão afligidos. Então, castigarei aqueles que os oprimiram [D'us aludiu às muitas pragas que mandaria contra o Egito], e os judeus partirão com uma grande fortuna. Finalmente, voltarão a Canaã. Expulsarão de Canaã as nações que ali viviam e herdarão a terra."
Enquanto Avram sonhava tudo isso, o sol se pôs. D'us fez descer uma espessa escuridão. Avram viu um forno fumegante e uma chama ardente passar entre os pedaços dos animais. O forno fumegante e a chama ardente eram os mensageiros de D'us. Quando eles passaram entre os pedaços era como se D'us, Ele Mesmo, estivesse andando entre eles e, desta maneira, selava um acordo com Avram.
O forno fumegante também era um sinal de que todas as nações que fossem afligir os judeus seriam atiradas por D'us em um forno ardente no Guehinom (inferno).
Assim, D'us fez um pacto com Avram prometendo-lhe que seus filhos herdariam a Terra de Israel. Esse acordo é conhecido como Berit ben Habetarim, o Acordo entre os Pedaços (dos animais).
Avram casa com Hagar. Ela dá a luz a Yishmael
Sarai não teve filhos em todos os anos do seu casamento com Avram. Ela disse, então, para Avram, "Case com minha criada Hagar. Talvez D'us se apiede de mim porque deixei você casar com outra mulher, e me dará um filho."
Hagar não foi sempre uma serva. Ela era, na verdade, uma princesa egípcia. Mas quando seu pai Faraó viu os grandes milagres que D'us realizou para Avram e Sarai, disse, "É melhor para minha filha ser uma serva desses grandes tsadikim que ser princesa no Egito."
Quando Hagar servia a Sarai, esta ensinou-lhe como servir a D'us.
Avram sabia que Sarai falou com ruach hacôdesh (inspiração Divina). Respondeu-lhe, "Vou te ouvir e casar com Hagar."
Depois que Hagar casou com Avram e esperava um filho dele, ficou orgulhosa. Quando Hagar falava com os outros, insultava Sarai zombando dela, "Sarai não é na realidade uma tsadeket! Se assim fosse, porque D'us não lhe deu filhos?"
Sarai puniu Hagar por palavras tão arrogantes. Fez Hagar trabalhar pesado.
Por isso Hagar fugiu para longe de Sarai, em direção ao deserto. Mas D'us mandou um anjo para ordenar a Hagar, "Volte para Sarai e a obedeça! D'us ouviu que você está infeliz e vai dar-lhe um filho. Chame-o Yishmael (Ismael). Ele vai ser um homem selvagem que viverá no deserto, e será o pai de uma grande nação."
Hagar agradeceu a D'us, "Abençoado Sejas, D'us, que viu minha desventura."
Hagar voltou para a tenda de Avram. Ela deu à luz um filho, a quem Avram chamou Yishmael. Ele se tornou o antepassado de todas as nações árabes.
D'us ordena Avram sobre a circuncisão
Quando Avram tinha noventa e nove anos, D'us lhe disse, "Avram, Eu quero que você tenha uma milá (circuncisão), isso vai ser um sinal no seu corpo de que você Me serve."
"De agora em diante, seus descendentes, os judeus, vão fazer a milá nos seus filhos quando seus filhos tiverem oito dias."
Qual é a diferença entre a mitsvá da milá e as outras mitsvot?
Outras mitsvot, tais como tsitsit ou tefilin, são cumpridas em determinadas ocasiões. Mas a mitsvá de milá permanece com a pessoa dia e noite e por toda a vida; nunca pode renunciar a ela.
D'us anunciou a Avram, "Você não será mais chamado de Avram mas sim, Avraham. Avram quer dizer que você é o pai de Aram, o lugar onde nasceu. Agora Eu o transformo em Avraham, que quer dizer o pai de muitas nações.
"O nome de Sarai também será mudado. De agora em diante ela será chamada Sara, que significa rainha sobre o mundo todo. Assim como você é um rei sobre o mundo, assim ela é uma rainha sobre o mundo. Apesar dela ser muito idosa para conceber, dará a luz um filho quando tiver o seu novo nome, Sara".
Avraham irrompeu num riso de felicidade quando ouviu as boas notícias.
D'us falou para Avraham, "Chamará seu filho de Yitschac (Isaac) porque você riu e se alegrou. Todos também rirão e se alegrarão com o seu nascimento."
Avraham não demorou para cumprir a mitsvá. No mesmo dia em que D'us falou com ele, fez a milá nele mesmo. Nesse mesmo dia, também fez a milá em Yishmael e nos trezentos e dezoito membros da sua casa. Essa foi uma tarefa monumental para executar em um dia, D'us deu a Avraham forças para realizá-la.
Uma história: Como o pai de Rabi Yehudá Hanassi estava disposto a sacrificar sua vida pela mitsvá da milá
Certa vez o governo Romano decretou, "Nenhum pai judeu pode fazer a milá em seu filho."
Naquele tempo nasceu um menininho na Terra de Israel. Foi chamado Yehudá. Seu pai era um dos líderes do povo judeu.
O pai disse, "D'us nos ordenou a fazer o berit milá. O cruel imperador romano nos ordenou o contrário. A quem hei de obedecer, a D'us ou ao imperador? Eu não desobedecerei à ordem de D'us por causa do imperador!"
Oito dias depois do nascimento do seu menino, o pai circuncidou-o secretamente.
Mas o segredo não foi guardado por todos. Algumas pessoas o passaram ao governador da cidade.
Ele chamou o pai de Yehudá e o repreendeu severamente, "Ouvi falar que você circuncidou seu filho. Como ousa desobedecer a ordem do imperador?"
O pai de Yehudá respondeu, "Faço o que D'us nos ordena!"
O governador disse, "Sei que você é um homem importante, um líder do povo judeu. Porém, nem mesmo você pode desobedecer o imperador. Será castigado."
"Qual será meu castigo?" - perguntou o pai de Yehudá.
"Isso não compete a mim decidir," respondeu o governador. Viajarei até o imperador em Roma e lhe comunicarei seu comportamento. Você, sua mulher e seu filhinho também deverão ir para serem julgados."
Com os corações pesados os pais de Yehudá se puseram a caminho com o bebê. Eles rezaram a D'us para que o imperador poupasse suas vidas.
Na noite antes de chegarem a Roma, alojaram-se numa hospedaria não-judia. A mulher do hospedeiro acabara de dar a luz. Ela iniciou uma conversa com a mãe de Yehudá.
"Porque você não está feliz com o seu novo bebê?" - perguntou-lhe ela. "Vejo que suspira e tem o semblante triste o tempo todo!"
"Temos muito medo", explicou a mãe de Yehudá. "O imperador pode nos matar porque circuncidamos nosso bebê apesar de sua proibição."
A mulher do hospedeiro era uma mulher muito boa. Fez um sinal para a mãe de Yehudá acompanhá-la até um aposento onde ninguém podia ouvi-las. Lá ela sussurou para ela, "Vamos trocar os bebês. Pode mostrar o meu para o imperador. O meu bebê não é circuncidado."
A mãe de Yehudá concordou e levou o bebê não-judeu para o palácio. Quando o bebê ficou com fome no caminho, a mãe de Yehudá o amamentou.
O governador estava no palácio do imperador. Ele explicou ao imperador, "Aqui está o judeu que desobedeceu tuas ordens, Majestade! Circuncidou seu filho".
O imperador ficou furioso. "Entregue a criança aos meus servos", ordenou.
O bebê foi examinado, porém para a grande surpresa de todos, não tinha milá!
O governador que havia acusado os pais de Yehudá quase desmaiou.
"Juro que este menino estava circuncidado, Majestade!", exclamou. "Deve ser um milagre. O D'us dos judeus faz milagres por eles quando rezam!"
O imperador estava muito irado com o governador, que o havia exposto ao ridículo perante toda corte. "Cortarei sua cabeça por dizer mentiras!", gritou. "E em relação aos judeus, deixá-los-ei circuncidar seus filhos se assim desejam! Meu decreto está abolido."
Cheios de gratidão a D'us, os pais de Yehudá saíram do palácio.
Na hospedaria, trocaram os bebês com a esposa do hospedeiro. Esta disse à mãe de Yehudá: "Quero que nossos filhos sejam amigos quando crescerem, pois D'us realizou um milagre através do meu filho".
Quando cresceu, Yehudá se tornou o santo Rabi Yehudá Hanassi, presidente do San'hedrin (Corte Suprema), e compilador da Mishná.
E o filho do hospedeiro? Por ter sido alimentado com o leite da mãe de Rabi Yehudá, D'us lhe concedeu grandeza neste mundo e no mundo vindouro. Mais tarde, veio a ser o imperador romano Antônio, um bom amigo de Rabi Yehudá e protetor dos judeus.
Da mesma forma que o pai de Rabi Yehudá agiu, muitos judeus nas gerações posteriores arriscaram a vida para fazer milá nos seus filhos.
Na época dos Chashmonaim (Macabeus, quando ocorreu o milagre de Chanucá) os gregos proibiram o berit milá. Matavam as mães cujos filhos eram circuncidados. Mesmo assim, muitos pais judeus continuaram a circuncidar seus filhos. Nos tempos atuais, a milá era proibida na União Soviética, e realizada secretamente.
Nosso povo esteve e está sempre disposto a arriscar a vida para cumprir as mitsvot de D'us.
D'us aparece para Avraham e lhe envia três anjos
Sabe o que Avraham costumava fazer todos os dias na hora do almoço?
Sentava-se à entrada de sua tenda e ali aguardava. Avraham pensava: "Se ao menos um viajante passasse... Queria convidá-lo para uma refeição!"
O maior prazer de Avraham na vida era oferecer uma refeição para alguém faminto; pois era bondoso para todos. Quando seus convidados terminavam de comer, Avraham ensinava-lhes a agradecer a D'us. Contava tudo sobre D'us, que criou o mundo e que cuida dele a cada instante.
Era o terceiro dia após berit milá de Avraham. Estava fraco, convalescendo e com dor. Apesar disso, antes da hora da refeição, sentou-se à frente de sua tenda, como de costume.
Era um dia extremamente quente, de modo que os caminhos estavam desertos. Avraham estava desapontado: "Parece que hoje não poderei alimentar ninguém," pensou tristemente.
D'us viu como Avraham estava infeliz. D'us disse: "Enviarei para Avraham três anjos, que terão a aparência de homens, para que possa convidá-los. Também hei de aparecer perante Avraham. Quero visitá-lo, porque está convalescendo do berit milá."
D'us pessoalmente visitou Avraham para ensinar-nos como é importante visitar os doentes.
Uma história: A importância de visitar os doentes
Uma vez, um dos alunos de Rabi Akiva ficou gravemente doente. Todos os Sábios estavam ocupados, estudando e ensinando Torá. Nenhum deles teve tempo para visitar o doente.
Quando Rabi Akiva ficou sabendo que um de seus alunos estava de cama, doente e completamente sozinho, largou todo seu importante trabalho, seus estudos e aulas. "Vou visitá-lo", disse ele.
Quando entrou no quarto do doente, Rabi Akiva notou que o chão estava cheio de pó.
"Varram!" - ordenou aos alunos. Quando o quarto ficou limpo, o aluno doente se sentiu bem melhor, e agradeceu a Rabi Akiva.
A proprietária da casa viu que o famoso Rabi Akiva viera visitar o aluno que era seu inquilino. "Deve ser um discípulo importante!" - pensou.
Imediatamente, trouxe-lhe uma sopa nutritiva e começou a cuidar bem dele. Em pouco tempo, o aluno, que tinha estado à beira da morte, se recuperou.
"Agora vocês podem ver como é grande a mitsvá de visitar os doentes!" - ensinou Rabi Akiva aos seus alunos. "Em primeiro lugar, ao visitarmos uma pessoa doente, vemos o que ela necessita para poder ajudá-la. Mais ainda, um visitante que vê um homem doente e fraco deitado na cama, reza: 'Por favor, D'us, faça-o melhorar!' Desta maneira ajuda-o a ficar curado.
"Um visitante também anima a pessoa doente, e assim ela pára de pensar em suas dores e sofrimentos. De certa forma, o visitante leva embora uma parte da doença."
Avraham serve aos anjos. Eles predizem que Sara terá um filho
Quando Avraham notou três homens caminhando na estrada, encheu-se de alegria. Apesar de suas dores, levantou-se e correu ao seu encontro.
Avraham curvou-se perante eles. "Por favor não passem sem entrar na minha tenda", implorou. "Pedirei para alguém trazer água, para que vocês possam lavar o pó de seus pés. Então, poderão comer um pouco de pão, agradecer a D'us, e continuar seu caminho."
Os anjos concordaram.
Um deles, Refael, foi mandado por D'us para curar Avraham. Tão logo este anjo aproximou-se de Avraham, as dores que sentia por causa do berit milá desapareceram!
Avraham ordenou aos servos que trouxessem água.
"Depois de que lavarem os pés," disse aos anjos, "venham descansar sob a minha árvore. A refeição logo ficará pronta."
Nossos Sábios explicam: A árvore maravilhosa de Avraham
Avraham tinha uma árvore especial. Ela testava todos os convidados. Se a pessoa que se sentava debaixo dela tivesse um coração puro, a árvore estendia seus ramos e proporcionava-lhe uma sombra deliciosa e refrescante. Mas a árvore não estendia os ramos sobre uma pessoa perversa, cujo coração estivesse profundamente ligado à idolatria.
Avraham convidava todos seus hóspedes a sentar-se sob a árvore. Se a árvore desse sombra ao convidado, Avraham sabia que era uma boa pessoa. Então conversava com ele durante muitas horas, e não o deixava sair da tenda antes de convencê-lo a servir a D'us.
Avraham serve seus convidados
Avraham correu para dentro da tenda e informou alegremente à Sara, "Chegaram visitas! Rápido, asse pães para a refeição!"
(De acordo com algumas opiniões de nossos Sábios, os anjos chegaram à casa de Avraham na véspera de Pêssach de manhã bem cedo, quando ainda era permitido assar pão. Existe uma opinião diferente, de que os anjos chegaram durante Pêssach, e Avraham ordenou a Sara para assar matsot, pão ázimo.)
Enquanto isso, Avraham correu para matar três vitelas tenras. Dificilmente, os três visitantes iriam comer carne de três vitelas inteiras. Isso seria demais para eles! Mas Avraham não fazia economia quando se tratava de servir seus hóspedes. Queria que cada convidado saboreasse a parte mais deliciosa da vitela - a língua. Por isso, matou três animais, para poder servir a cada convidado uma língua inteira.
Avraham chamou seu filho Yishmael. "Apresse-se para preparar a carne." Avraham não queria que as visitas esperassem demais pela refeição.
Os três anjos receberam uma refeição deliciosa. Primeiro saborearam creme e leite, e mais tarde, foi servida a língua tenra com mostarda.
Um dos anjos prediz que Sara terá um filho
Quando os anjos terminaram a refeição, perguntaram a Avraham: "Onde está Sara?"
"Está na tenda", respondeu Avraham.
Sara era uma mulher recatada. Não saía para se mostrar perante estranhos, mas permanecia dentro da tenda.
Um dos anjos anunciou: "Tenho uma mensagem para Sara. No próximo ano, nesta época, Sara terá um filho! Voltarei para celebrar com vocês o berit milá de seu filho."
Sara ouviu a mensagem, de dentro da tenda. Não sabia que o homem que falava era um anjo; parecia um viajante comum. Ela riu consigo mesma. "Avraham e eu somos velhos," pensou. "Como ainda poderemos ter filhos?"
D'us ficou aborrecido por Sara ter rido. D'us falou para Avraham: "Existe algum milagre que seja difícil demais para D'us realizar? No próximo ano, em Pêssach, Sara terá um filho."
Os três anjos se levantaram. Um deles voltou para o céu, e os outros dois dirigiram-se a pé para a cidade de Sodoma.
As leis cruéis de Sodoma
D'us disse: "Destruirei a cidade de Sodoma e suas cidades vizinhas - Gomorra (Amorá), Admá, Tsevoyim e Tsoar. Estão cheias de pessoas perversas."
Os cidadãos de Sodoma e das outras cidades eram orgulhosos e egoístas. Suas leis cruéis demonstravam como eram perversos. Eis aqui algumas de suas leis:
• É proibido alimentar um pobre.
• Os moradores de Sodoma tinham outro costume mesquinho: Quando um pobre chegava a Sodoma, cada cidadão costumava dar-lhe uma moeda, na qual estava gravado o nome do dono. O pobre pegava as moedas com alegria, mas ninguém lhe vendia comida por estas moedas. Assim, o pobre homem morria de fome. Então todos recuperavam suas moedas de volta. Esta era a única "caridade" permitida pelas leis de Sodoma.
• Ninguém pode convidar um desconhecido para sua casa.
• Qualquer desconhecido que passe por Sodoma será maltratado e roubado.
Os habitantes de Sodoma viviam felizes com essas leis horríveis! "Queremos cuidar do nosso dinheiro. Se nós convidarmos hóspedes ou dermos de comer aos pobres, perderemos nosso dinheiro", diziam.
Certa vez, duas moças de Sodoma foram ao poço tirar água.
"Porque você está tão pálida?" - perguntou uma para a outra. A outra sussurrou bem baixo, para que ninguém mais pudesse ouvir: "Não temos comida em casa! Vamos todos morrer."
Quando a amiga ouviu isso, ficou com pena. Correu para casa e encheu um jarro com farinha. Trocaram os jarros, assim uma recebeu o jarro com farinha e a outra levou para casa um jarro com água.
Mas alguém as observou. Informou aos juízes de Sodoma sobre a ação bondosa da moça. E o que fizeram esses juízes? Mataram a moça piedosa, por haver violado as "leis de Sodoma".
O povo de Sodoma costumava roubar seus próprios ricos, da seguinte maneira: levavam o rico para a parede de um pardieiro. Todos se juntavam e derrubavam a parede sobre ele, deste modo ele ficava soterrado sobre os escombros e morria. Depois, dividiam o dinheiro entre si.
Se um homem batia em outro e o fazia sangrar, o juiz decidia que a pessoa ferida devia pagar honorários médicos ao atacante, por prestar o serviço chamado "sangria" que os médicos costumavam executar.
Avraham reza por Sodoma
D'us disse a Avraham: "As almas das pobres pessoas que morreram de fome em Sodoma e das pessoas que foram roubadas pedem-Me para que Eu castigue esta cidade de malvados.
"Descerei junto com meus anjos para ver se o povo de Sodoma merece ou não ser destruído."
Avraham tinha pena de todas as pessoas. Tinha esperanças de poder salvar até mesmo esses perversos.
Rezou, "D'us, o Senhor é o Juiz do mundo inteiro. Se destruir o povo de Sodoma, todos alegarão: 'D'us é um D'us que mata pessoas.' Por favor não seja rigoroso no Seu julgamento! Certamente também há pessoas boas em Sodoma. Pretende destruí-las junto com os perversos?!"
D'us respondeu: "Todos os habitantes de Sodoma e das outras quatro cidades são perversos."
Avraham implorou: "Talvez haja apenas cinqüenta tsadikim (justos) entre eles. Não poderias, D'us, perdoar todo o povo de Sodoma, por causa da retidão dos cinqüenta bons que vivem lá?"
D'us respondeu: "Se lá houvesse cinqüenta tsadikim, salvaria todo povo de Sodoma e das outras quatro cidades, em consideração a eles, mas não há!"
Avraham voltou a suplicar: "Mas talvez haja quarenta e cinco pessoas boas! Não seriam elas suficientes para salvar todas?"
D'us respondeu: "Sim, mas também não há quarenta e cinco pessoas justas!"
Avraham exclamou: "Então talvez haja quarenta tsadikim!"
D'us respondeu: "Não há sequer nem quarenta pessoas boas em Sodoma e nas outras cidades!"
Avraham não desistiu. Continuou rezando para que D'us salvasse as cidades perversas por causa de alguns tsadikim que viviam ali. Finalmente, ouviu de D'us que não havia nem mesmo dez pessoas boas em Sodoma e suas cidades vizinhas. Avraham então parou de rezar, porque compreendeu que "D'us é um Juiz justo." Está destruindo cidades porque todos seus cidadãos são perversos.
Os anjos que D'us enviou para destruir Sodoma e salvar Lot estavam aguardando, para ouvir se Avraham seria ou não capaz de salvar Sodoma com suas orações. Quando Avraham parou de tentar, prosseguiram viagem, para destruir as cidades depravadas.
Lot convida os anjos para sua casa
Os dois anjos chegaram a Sodoma ao anoitecer. Tinham aparência de homens.
Lot reparou neles na rua, e pediu, "Venham passar a noite em minha casa! Mas cheguem secretamente, por um desvio, porque se as pessoas daqui descobrirem que tenho hóspedes, me matarão. Não passem a noite na rua!"
"Deixe-nos ficar na rua," responderam os anjos. "É muito perigoso para você nos convidar para entrar!"
Mas Lot insistiu. Aprendera com Avraham a ser hospitaleiro. Finalmente, os anjos concordaram em ir para sua casa.
Lot assou matsot para seus convidados. Depois, disse à sua mulher: "Por favor dê sal aos nossos convidados para que temperem a comida."
A mulher de Lot estava muito zangada por seu marido ter trazido convidados à sua casa. Pensou: "Basta que lhes dá comida, não precisam de sal para deixá-la saborosa. Podem muito bem passar sem sal!"
A mulher de Lot queria que suas vizinhas soubessem que Lot havia convidado pessoas, mas tinha medo de seu marido. Então, usou o sal como desculpa. Disse para Lot, "Vou pedir sal emprestado!"
Foi de uma vizinha a outra dizendo: "Temos hóspedes. Você nos emprestaria um pouco de sal para pôr em sua comida?"
Isso era justamente o que o povo de Sodoma precisava ouvir! Todos correram para a casa de Lot, e cercaram-na por todos os lados.
"Entregue-nos seus hóspedes, Lot!" - gritavam eles. "Queremos fazer com eles o que fazemos com todos os forasteiros!"
Lot apareceu na porta da casa. "Por favor, meus irmãos," implorou para as pessoas: "Não façam mal a meus hóspedes! Em vez disso, dar-lhe-eis minhas duas filhas solteiras!"
"Não, queremos seus hóspedes!" - responderam os moradores de Sodoma.
"Se não os der para nós, arrombaremos a porta e entraremos à força!"
Os anjos fizeram Lot entrar na casa e fecharam a porta. Então, castigaram todas pessoas ao redor da casa com cegueira. De repente, o povo de Sodoma não conseguia mais achar a porta. Ainda assim, não desistiram de sua busca. Eram tão perversos que continuaram procurando a porta, mesmo cegos! Não desistiram até que caíram de cansaço.
D'us destrói Sodoma
Os anjos revelaram a Lot: "Em breve, D'us vai destruir esta cidade perversa! Pegue sua família e fuja!"
Lot começou a juntar seu dinheiro e seus bens para levá-los consigo. Os anjos o avisaram: "Não há tempo para isso! Se demorar, também morrerá!"
Mas Lot não queria deixar seus haveres para trás. Quando os anjos viram que ele estava se demorando, pegaram-no, com a mulher e as duas filhas solteiras pela mão, e os levaram às pressas para fora da cidade.
Os anjos advertiram: "Não parem! Continuem andando, e jamais olhem para trás!"
Porque não era permitido a Lot e sua família olhar para trás?
Lot não era tão tsadic que merecesse ser salvo. D'us o salvou, e à sua família, somente pelo mérito de Avraham. Como Lot e sua família mereciam ser castigados, não lhes era permitido ver o castigo dos outros.
Logo que Lot e sua família estavam fora da cidade, começou a cair uma chuva do céu. Quando esta alcançou Sodoma e as cidades vizinhas, transformou-se em piche e fogo. O fogo destruiu tudo. Ninguém conseguiu escapar. Quando as pessoas começavam a correr, seus pés ficavam atolados no piche.
A mulher de Lot tinha curiosidade para ver o que tinha acontecido com sua casa e voltou-se para trás. Imediatamente, transformou-se numa estátua de sal. Podemos adivinhar porque D'us a transformou em sal? Esse foi o castigo que ela mereceu por sua maldade, quando fingiu pedir emprestado sal para seus hóspedes.
No sul da Terra de Israel, ainda podemos ver a região onde Sodoma foi destruída. Lá não há nenhuma vegetação. A água do Mar Morto, o Yam Hamelach, é tão cheia de sal que não se pode afundar nela. Nossos Sábios estabeleceram berachot (bênçãos) especiais que se diz quando se vê o pilar de sal em que era a mulher de Lot foi transformada.
Lot e suas filhas
O anjo disse a Lot: "Fuja para a montanha onde vive Avraham." Mas Lot temia voltar à vizinhança de Avraham, pensando: "Quando vivia entre o devasso povo de Sodoma, D'us comparou-me a este, julgando-me relativamente justo, e por isso salvou-me. Porém se mudar-me para as vizinhanças de Avraham, o tsadic, serei considerado perverso, se comparado a ele." Sendo assim, Lot rogou a D'us para que poupasse a cidade de Tsoar, a fim de que pudesse para lá escapar. "Tsoar tem menos pecados que Sodoma," argumentou, "uma vez que foi povoada mais recentemente." D'us concedeu-lhe o pedido e, em sua consideração, não destruiu a cidade de Tsoar. Lot foi assim recompensado por ter-se desviado de seu caminho para convidar os anjos, e por ter se colocado em perigo por causa dos anjos. Em troca, agora D'us o favoreceu, salvando Tsoar.
O anjo ordenou a Lot: "Apresse-se e fuja para Tsoar, pois não posso destruir Sodoma antes que você chegue lá!" Lot e suas filhas apressaram-se para Tsoar, porém não permaneceram. Lot temia estabelecer-se naquela cidade, porque ficava muito perto de Sodoma. Em vez disso, mudou-se com as filhas para uma caverna nas montanhas, desconsiderando, assim, as palavras do anjo que lhe ordenou refugiar-se em Tsoar. Como conseqüência, sucedeu-se a vergonhosa história dos eventos ocorridos na caverna.
Duas grandes mulheres estavam destinadas a descender das filhas de Lot: Rut, a mulher moabita que viria a ser a ancestral da dinastia de David e, em última análise, de Mashiach; e Naama, a mulher amonita que se casaria com o rei Salomão, e tornar-se-ia mãe do rei Rechavam. As filhas de Lot puderam sobreviver à aniquilação em consideração às duas preciosas almas - Rut e Naama - que mais tarde delas viriam a brotar.
Ambas as filhas de Lot eram justas e virtuosas, e aprenderam a amar a D'us na casa de Avraham. Após testemunharem a destruição de quatro grandes cidades, e a terra engolir todos os habitantes de Tsoar (apesar de não ter sido destruída, como Sodoma), as filhas de Lot ficaram com a impressão de que um segundo Dilúvio havia varrido a terra, deixando-as como únicas sobreviventes. "Nosso pai está velho," disse a irmã mais velha para a mais nova, "e poderá morrer. A não ser que um filho varão lhe nasça em breve, a raça humana perecerá! As filhas de Lot agiram por amor ao Céu. Encontraram vinho na caverna, o qual D'us preparara especialmente para essa finalidade, pois queria que ambas as nações, Amon e Moav, viessem a existir. Permitiram que o pai se embriagasse, e seduziram-no. A primeira deu o exemplo, e a mais jovem seguiu-o.
Ao contrário das filhas, Lot sabia, através dos anjos, que a destruição afetaria apenas determinado número de cidades, e não o mundo inteiro. Mais ainda, apesar de estar embriagado e não ter consciência do que fazia na primeira noite, pela manhã percebeu, e soube o que acontecera. Não obstante, permitiu-se embriagar-se novamente, sabendo perfeitamente quais seriam as conseqüências
Ambas engravidaram e deram à luz filhos varões.
A mais velha era tão desavergonhada e impudente que deu ao filho um nome que indica claramente sua ignominiosa paternidade. O nome Moav vem de "Me'av", "do pai." A mais nova, contudo, deu a seu filho o nome de Amon, que significa "filho de meu povo", desta forma, ocultando pudicamente seu pai. Foi recompensada na época de Moshê, quando D'us ordenou que o povo judeu não incitasse guerra contra Amon.
Avimêlech, o rei dos pelishtim leva Sara para seu palácio
Depois que Sodoma foi destruída, Avraham decidiu sair daquela vizinhança. Pensou: "Ali não vai mais haver viajantes a quem eu possa oferecer refeições em minha tenda, e a quem eu possa transmitir ensinamentos."
Avraham e Sara viajaram para a terra dos filisteus (pelishtim). Apesar dos filisteus não serem tão maus como os egípcios, Avraham preveniu Sara: "É melhor dizer a todos que somos irmãos."
O rei Avimêlech ouviu falar de Sara. Ordenou aos soldados que a trouxessem ao seu palácio.
Sara rezou à D'us para enviar um anjo para protegê-la. D'us mandou uma praga para o rei Avimêlech e sua família.
Naquela noite, D'us apareceu em sonho ao rei Avimêlech, e o advertiu "Hei de puni-lo com morte, porque trouxeste Sara para o seu palácio. Ela é uma mulher casada!"
Avimêlech defendeu-se: "O que fiz de errado? Sou um tsadic. Tanto, Avraham como Sara disseram-me que são irmãos. Se me castigar com a morte, Avraham também merece morrer! A culpa é dele."
D'us repreendeu Avimêlech: "É verdade que não sabias que Sara era casada. Porém, não tinha o direito de trazê-la à força para o palácio. Isso foi um sequestro e mereces a morte por isso. Devolve-a para o marido, do contrário morrerás!"
O rei Avimêlech retornou Sara para Avraham. Perguntou: "Não sabias que somos pessoas boas e bem educadas? Por que, em vez de contar-me a verdade, fingiste que Sara era sua irmã?"
Avraham respondeu: "Pode ser que seus cidadãos agem como pessoas boas, mas vi que eles não têm temor a D'us. Pessoas que não temem a D'us são capazes de matar para tomar minha mulher."
O rei Avimêlech deu presentes caros a Avraham para apaziguá-lo.
Avraham rezou a D'us: "Cure Avimêlech e sua família da praga." D'us aceitou a oração de Avraham e curou Avimêlech.
Avraham é hospitaleiro com todos
Avraham mudou-se para Beer Shêva, ao sul da Terra de Israel.
Lá plantou um lindo pomar, repleto de frutas deliciosas como figos, uvas e romãs.
Quando os viajantes passavam, Avraham os convidava para sentarem-se. Perguntava-lhes: "O que você gostaria de comer?" Cada viajante pedia a comida que desejava. Avraham servia a cada hóspede, mas não cobrava nada pela comida e ou serviço que prestava.
Na época de chuva, Avraham oferecia alojamento, onde passantes podiam ficar sem pagar.
Quando um indivíduo havia comido e bebido, Avraham dizia, "Agora, recite uma bênção de agradecimento!"
"O que devo dizer?" - perguntava o convidado. Avraham ensinava: "Diga: 'Abençoado seja D'us, Rei do universo, Cuja comida comemos!.'"
Desta maneira, Avraham fez o Nome de D'us conhecido no mundo todo. Milhares e milhares de pessoas começaram a acreditar em D'us e rezar para Ele.
O nascimento de Yitschac e o banquete que Avraham fez quando Yitschac foi desmamado
Sara deu a luz a um menino em Pêssach, um ano depois que os anjos visitaram a tenda de Avraham. Sara tinha noventa anos e Avraham cem anos quando seu filho veio ao mundo. Era um grande milagre que eles tivessem um filho na velhice.
Avraham e Sara disseram: "Todas as pessoas que ouvirem que tivemos um filho se alegrarão." Deram o nome de Yitschac ao recém-nascido.
Quando Yitschac completou oito dias, Avraham lhe fez a milá (circuncisão).
Sara amamentou Yitschac até os dois anos de idade. Quando o desmamou, Avraham deu uma festa.
Algumas pessoas diziam: "Avraham e Sara nunca tiveram um bebê. São velhos demais. Devem ter levado um bebê estranho para casa e contado a todos que era seu próprio filho!"
Por isso, Avraham instruiu Sara: "Amamente os bebês de todas as mulheres que vierem para a festa! Assim verão que D'us transformou você numa jovem mulher e Yitschac é nosso verdadeiro filho!"
Sara amamentou todos os bebês que foram levados a ela. Agora, todos acreditaram que D'us realizara um maravilhoso milagre para Avraham e Sara.
Avraham manda embora Yishmael e Hagar
O pequeno Yitschac cresceu junto com seu meio-irmão mais velho, Yishmael, filho de Hagar.
Yitschac prestava atenção a tudo que Avraham lhe ensinava. Mas Yishmael zombava do que Avraham lhe ensinava. Trazia ídolos para casa e os cultuava. Avraham não percebeu isso, mas Sara sim.
Um dia Sara observou uma briga entre Yishmael e Yitschac. Yishmael se vangloriou: "Sou o primogênito. Terei uma porção dobrada dos bens de Avraham." Yitschac respondeu: "Mas, eu é que sou o filho de Sara. Mereço herdar tudo o que Avraham possui."
Yishmael e Yitschac correram juntos para o campo. Yishmael sacou seu arco e flecha e disparou contra Yitschac.
Quando Sara o repreendeu, retrucou: "Estava apenas brincando."
Sara falou a Avraham: "Não é bom que Yitschac e Yishmael permaneçam juntos. Yishmael não se comporta como seu filho, mas como filho de uma mulher egípcia! Sua mãe, Hagar, deve ter-lhe ensinado a cultuar ídolos. Mande Yishmael embora junto com ela!"
Avraham ficou muito perturbado. Quem tomaria conta de Yishmael longe de casa? Talvez Yishmael ficasse até pior, longe de sua influência.
Mas D'us disse a Avraham: "Sara tem razão. Ouça tudo o que ela lhe diz. Mande Hagar e Yishmael embora. Somente Yitschac tornar-se-á o patriarca de uma nação sagrada, não Yishmael. Não se preocupe com ele; Eu o protegerei mesmo estando longe de sua casa."
Na manhã seguinte, bem cedo, Avraham fez como D'us havia lhe ordenado. Deu pão e um frasco de água para Hagar e pôs Yishmael sobre seus ombros, porque Yishmael estava com febre. Avraham os mandou embora.
Hagar e Yishmael vagaram pelo deserto. A febre queimava em Yishmael e este tinha tanta sede que logo bebeu toda a água que a mãe havia levado.
Hagar tinha medo de que seu filho morresse de sede, porque não sobrara água no frasco.
Colocou-o sob um dos arbustos que cresciam no deserto, depois afastou-se e começou a chorar.
Hagar rezou a D'us e assim como o doente Yishmael. D'us aceitou a oração do menino doente. Um anjo falou do céu: "Hagar, não temas! D'us está protegendo teu filho. Ele viverá e se tornará o pai de uma grande nação!"
De repente, Hagar viu um poço com água, no meio do deserto. Havia aparecido milagrosamente. Beberam de sua água e Hagar encheu o frasco.
Hagar e Yishmael estabeleceram-se no deserto de Paran. Yishmael tornou-se arqueiro.
Avraham está pronto para sacrificar seu filho no monte de Moriyá
D'us chamou: "Avraham, Avraham!"
"Estou disposto a fazer qualquer coisa que me peças," respondeu Avraham
"Pegue seu filho Yitschac," disse D'us, "e vá para a terra de Moriyá. Lá deverás ofertá-lo como sacrifício numa das montanhas que eu lhe mostrarei!"
Podemos imaginar como Avraham deve ter ficado chocado!
Todo pai ama seu filho. Avraham sentia um carinho especial por Yitschac, porque havia esperado por um filho até a idade de cem anos. E não tinha outro filho para tomar o lugar de Yitschac.
Avraham também se lembrou da promessa de D'us que Yitschac teria tantos descendentes quanto as estrelas do céu. Agora essa promessa não se cumpriria.
Mas Avraham não fez perguntas a D'us. Pensou: "Qualquer coisa que D'us me pede farei sem questionar."
Avraham não sabia como contar para Sara que D'us queria que Yitschac fosse sacrificado. Ela ficaria tão triste, partiria o seu coração.
Portanto, disse a Sara: "Nosso filho cresceu. É tempo de ele estudar Torá. Amanhã vou levá-lo para a Yeshivá de Shem."
"Faça como você diz," respondeu Sara. "Mas por favor não o deixe lá por muito tempo, pois não posso aguentar a separação. Cuide bem dele no caminho."
Sara preparou bonitas roupas para Yitschac utilizando os trajes que o Rei Avimêlech lhe havia dado. Ela também preparou provisões para a viagem.
Pela manhã bem cedo, Avraham selou pessoalmente seu burro. Ordenou ao filho Yishmael, que estava então de visita na casa de Avraham, e ao seu servo Eliêzer, que os acompanhassem.
Avraham rachou lenha (para tê-la pronta para o sacrifício) e colocou-a sobre o burro. Chamou Yitschac, e partiram juntos.
Durante a jornada, Satan, o anjo que tenta persuadir as pessoas a não obedecer a D'us, apareceu a Avraham e Yitschac.
Primeiro Satan se apresentou a Avraham como um homem velho. Falou um pouco com Avraham, até que este lhe contou aonde estava indo, e por quê.
Depois, perguntou, "Você não está sendo tolo por ir matar um filho que nasceu em sua velhice? Não é possível que D'us lhe tenha ordenado fazer isso. Ele não lhe daria uma ordem tão cruel!"
Mas Avraham compreendeu que essas eram idéias e argumentos de Satan.
"Deixe-me em paz!" - gritou, e o anjo desapareceu.
Satan então apareceu a Yitschac como um rapaz jovem e bonito.
"Você sabe para onde seu velho e tolo pai o está levando?" - perguntou. "Para o sacrifício! Morrerás jovem!"
"Pai!" - Yitschac chamou Avraham. "Você ouviu o que esse rapaz estava me dizendo?"
"Tome cuidado com ele", Avraham preveniu a Yitschac. "Não lhe dê ouvidos! É Satan, o anjo do mal, que quer que desobedeçamos a mitsvá de D'us!" Avraham gritou de novo com Satan, e este se foi.
Satan tentou de outro modo. Transformou-se num grande rio, bloqueando o caminho. Avraham e Yitschac avançaram rio adentro até que a água alcançou seus pescoços e aí ficaram com medo.
Então Avraham compreendeu que tudo aquilo era um teste para eles. "Aqui nunca houve rio algum," disse para Yitschac. "Isso é obra de Satan".
"D'us, tire Satan de nosso caminho", implorou Avraham. "Estamos tentando cumprir a Sua ordem."
Satan foi embora e o rio voltou a ser terra seca.
Depois de caminhar por três dias Avraham avistou a montanha sobre a qual a nuvem da Shechiná (Divindade) pairava, e assim soube para qual montanha dirigir-se com o seu filho.
Avraham disse a Yishmael e Eliêzer: "Fiquem aqui aos pés da montanha. Eu e Yitschac subiremos, prostrar-nos-emos perante D'us e voltaremos para onde vocês estão."
Avraham, sem saber, havia dito a verdade! Tanto ele como Yitschac realmente voltariam da montanha!
Avraham pôs a lenha da fogueira nos ombros de Yitschac, e juntos subiram a montanha.
Yitschac perguntou-se. Havia uma faca e fogo, mas nenhum animal para o sacrifício! Havia suspeitado da verdade antes, mas agora tinha quase certeza.
"Pai," perguntou Yitschac, tremendo, "Vejo o fogo e a madeira, mas onde está o animal para o sacrifício?"
"Já que você me pergunta", respondeu Avraham, "vou lhe contar. D'us escolheu você para o sacrifício, meu filho."
"Eu vou me deixar sacrificar de bom grado," disse Yitschac sem hesitar. "Mas me dói pensar no sofrimento da minha mãe quando souber de minha morte."
Quando chegaram ao local assinalado, Avraham construiu um altar e dispôs a madeira sobre ele. Depois Avraham colocou Yitschac sobre o altar por cima da madeira. Yitschac pediu a ele para amarrar suas mãos e pés firme para não empurrar ou chutar e com isso, estragar o sacrifício. Lágrimas escorreram dos olhos de Avraham, enquanto estendia sua mão empunhando a faca para matar seu filho. Mas em seu coração estava feliz por obedecer a D'us.
No céu, D'us ordenou ao anjo Michael: "Rápido, diga para Avraham parar!"
"Avraham, Avraham," chamou o anjo Michael. "Não mate seu filho!"
Avraham sentiu um súbito desapontamento.
"Vim até aqui, ergui o altar e preparei o sacrifício, tudo em vão?" - perguntou ele. "Permita-me fazer um pequeno corte nele com minha faca, para mostrar que estava disposto a sacrificá-lo."
"Não o machuque!" - ordenou o anjo.
Avraham rezou a D'us: "Por que então me ordenaste oferecer meu filho em sacrifício?"
D'us respondeu, "Somente ordenei, 'leve-o para o monte de Moriyá', porque queria comprovar se você me obedeceria. Passaste no teste. Mostrei a todos povos do mundo que tsadic você é!"
Avraham sentiu um vazio. Viera especialmente para oferecer um sacrifício; e de repente, não tinha nenhum para ofertar a D'us.
Então, D'us fez aparecer um carneiro, a uma pequena distância de Avraham. Seus chifres estavam enredados nos arbustos. Avraham o pegou e o sacrificou sobre o altar.
Ele suplicou a D'us: "Por favor, D'us, aceite este sacrifício como se tivesse sacrificado meu filho!"
Avraham profetizou: "Sobre esta montanha, onde atei Yitschac, um dia será construído o Templo Sagrado (Bet Hamicdash). Aqui a Shechiná será revelada ao povo judeu. Como eu estava disposto a sacrificar Yitschac, D'us aceitará as orações e sacrifícios do Povo de Israel."
D'us sempre recorda o grande mérito do sacrifício de Yitschac.
É quase inacreditável que um homem que teve um filho único em sua velhice, e a quem D'us muitas vezes prometera que teria muitos descendentes deste filho, estivesse disposto a sacrificá-lo para D'us, sem queixas ou perguntas.
Especialmente em Rosh Hashaná, o dia em que D'us nos julga, mencionamos em nossas rezas:
"D'us, por causa do sacrifício de Yitschac, julgue todos os judeus com misericórdia. Assim como Avraham atou seu filho ao altar e subjugou a sua piedade para cumprir Tua vontade, assim D'us, sê misericordioso para conosco mesmo se nós O encolerizamos!"
Por que tocamos shofar, um chifre de carneiro, em Rosh Hashaná? Para que D'us tenha misericórdia de nós, pelo mérito de Avraham que estava disposto a sacrificar seu único filho.
A morte de Sara
Depois da Akedá (sacrifício de Yitschac), Avraham voltou para sua tenda em Beer Shêva, mas não encontrou lá sua esposa Sara.
"Onde está Sara?" - perguntou aos seu servos. Estes o informaram:
"Sara viajou para Chevron (Hebron)."
Avraham foi em busca dela. Quando chegou a Chevron, ficou sabendo da triste notícia: sua mulher havia falecido.
O Midrash explica: Como Sara faleceu
O anjo mau, Satan, apareceu perante Sara depois que Avraham havia partido rumo ao monte Moriyá junto com Yitschac, para oferecê-lo como sacrifício.
Satan tinha o aspecto de um homem comum. Suas roupas estavam empoeiradas como as de um viajante que anda pelas estradas. Contou a Sara:
"Encontrei-me com seu marido, Avraham, e não imagina o que estava fazendo. Construiu um altar e pôs seu filho Yitschac sobre ele. Yitschac chorava implorando por piedade, mas Avraham se recusou a atender às comoventes súplicas de Yitschac. Amarrou as mãos e os pés do filho e o matou."
Sara começou a chorar. Pôs cinzas sobre a cabeça. "Meu filho Yitschac!" - exclamou ela. "Quem dera tivesse morrido em seu lugar. Mas sinto-me reconfortada e consolada porque sei que foi cumprida a palavra de D'us. D'us é justo em tudo que faz. Mesmo que meus olhos derramem lágrimas, meu coração está feliz por Avraham ter obedecido à ordem de D'us."
Sara desmaiou de emoção, mas logo depois se sentiu melhor. Disse às servas:
"Viajarei a Chevron para descobrir alguma coisa mais sobre o que ocorreu com Yitschac!"
No caminho, Sara perguntava a todos que encontrava:
"Vocês viram Avraham e Yitschac?" Mas ninguém soube lhe dizer nada.
Quando Sara chegou a Chevron, Satan voltou a apareceu-lhe outra vez. Disse-lhe:
"Antes, menti a você. A verdade é que, apesar de Avraham ter amarrado seu filho Yitschac sobre o altar, não o matou no final."
Sara sentiu-se dominada por tanta felicidade com esta notícia maravilhosa que não pôde suportá-la. O coração parou de bater e ela morreu.
Avraham guarda luto por Sara
Sara tinha cento e vinte e sete anos quando morreu. Viveu cada um de seus anos com integridade, aceitando todos os decretos de D'us com alegria. Mesmo aos cem anos de idade, era livre de pecados como alguém de vinte anos (que pode ser considerado livre de pecados porque com esta idade ainda não está sujeito à punição celeste).
Avraham lamentou muito sua morte. Com profundo pesar, exclamou:
"Todos devem chorar a morte desta grande tsadeket, porque D'us abençoou todas as pessoas por seu mérito.
"Sara serviu a D'us durante toda sua vida. Constantemente preparava comida para hóspedes e também os ensinava a crer em D'us.
"Durante toda sua vida, a nuvem da Shechiná (Presença Divina) pairava sempre sobre sua tenda. D'us abençoava sua massa de modo que sempre tinha pão em abundância; as velas que acendia na véspera do Shabat permaneciam acesas até a véspera do Shabat seguinte. Agora que ela não está mais aqui, tudo isto cessou."
Sara foi a primeira das quatro matriarcas, fundadoras da nação judaica. Foi uma das sete profetisas conhecidas.
As sete profetisas foram:
• Sara
• Miriam (irmã de Moshê)
• Devorá (a juíza)
• Chana (mãe do profeta Shemuel)
• Avigail (esposa do rei David)
• Chulda (que profetisava para as mulheres à época em que Yirmiyáhu profetisava para os homens)
• A Rainha Ester
Sara era tão grande que D'us falava diretamente com ela; enquanto que com outras profetisas Ele falou apenas através de mensageiros. Ela foi uma tsadeket de tal envergadura que até os anjos estavam sob seu comando. Quando ordenou ao anjo: "Golpeie", este afligiu o Faraó e toda sua casa com pragas.
Quando o rei Shelomô (Salomão) compôs a canção Êshet Cháyil, tecendo louvores à Mulher Virtuosa, aludiu a Sara. Todos os versos da canção, do primeiro ao último, referem-se a ela, uma vez que cumpriu toda a Torá, do começo ao fim.
Avraham compra a Gruta de Machpelá
Avraham conhecia o local onde desejava sepultar Sara. Havia uma gruta, perto de Chevron, onde Adam e Chava estavam enterrados. Era um lugar sagrado, chamado "Gruta de Machpelá."
Avraham se propôs a comprar a gruta de seu proprietário, que se chamava Efron. Primeiro, porém, queria pedir permissão para à tribo de Efron, os Benê Chet:
"Por favor, deixe-me comprar um pedaço da propriedade para uma sepultura," pediu a eles.
Os membros da tribo Benê Chet responderam:
"És um homem famoso, um príncipe de D'us. Daremos a ti qualquer propriedade onde desejas sepultar teus mortos."
Avraham curvou-se para agradecer a D'us. Pediu aos membros da tribo:
"Por favor, peçam ao proprietário da Gruta de Machpelá, Efron, que a venda para mim."
Quando Efron ouviu que Avraham queria comprar sua gruta, foi pessoalmente falar com ele.
"Meu senhor," disse para Avraham. "Não quero dinheiro algum pelo campo onde está a gruta. Dou-a para você de graça."
"Não," protestou Avraham, "prefiro comprá-la."
Avraham sabia que Efron não falava a sério quando prometia dar-lhe a gruta de presente. Efron era um homem avarento e, em seu coração, realmente queria dinheiro em troca da gruta.
Portanto, Avraham insistiu: "Apenas diga-me o preço e o pagarei."
"Bem, se você insiste, direi o preço." replicou Efron. "É uma quantia muito pequena - apenas quatrocentos shecalim de prata."
Na verdade, não era em absoluto uma quantia pequena - era um preço muito, muito alto. O avarento Efron cobrava de Avraham um preço exorbitante, apesar de, a princípio, ter prometido dar a gruta de graça.
Avraham, porém, não regateou com Efron. Queria pagar pelo lugar sagrado o preço integral para que ninguém mais tarde afirmasse que a Gruta de Machpelá, na realidade, não lhe pertencia.
Avraham pagou a Efron quatrocentos shecalim. Depois, sepultou Sara.
Mais tarde, quando Avraham morreu, também foi enterrado na Gruta de Machpelá.
Há três lugares chave pelos quais nossos antepassados pagaram a não-judeus em dinheiro, para assegurar-se de que seriam legítimos donos das propriedades e com isso não poderiam ser acusados, mais tarde, de ter se apropriado destes ilegalmente:
• A Gruta de Machpelá, cuja transação é registrada pela Torá.
• O local do Bet Hamicdash (Templo Sagrado, em Jerusalém) foi comprado pelo Rei David de Aravna, do povo de Yevussi.
• O lugar de sepultamento de Yossef em Shechem (Nablus) foi adquirido por seu pai Yaacov.
O Midrash explica: Como a Gruta de Machpelá recebeu este nome
Você sabe o significado do nome "Gruta de Machpelá"?
Quer dizer "A Gruta dos Duplos." (A palavra "Machpelá" tem a mesma origem de "caful" que significa "duplo").
O que era "duplo" nesta gruta?
Há muitas explicações. Abaixo encontramos algumas delas:
1. Havia um "segundo pavimento" sobre a gruta, sendo assim realmente, uma gruta dupla. (Porém somente o andar de baixo servia como local de sepultamento).
2. Não só Sara foi sepultada nesta gruta como também seu marido Avraham, mais tarde, quando faleceu. Yitschac e sua mulher Rivca também seriam sepultados lá, e assim o foram Yaacov e uma de suas esposas, Léa. Outro casal havia sido enterrado na Gruta de Machpelá, muito antes: o primeiro homem, Adam (Adão) e sua esposa, Chava (Eva).
Como os sepultos na Gruta eram casais ou "duplos", a Torá a chama de Machpelá, significando "A Gruta dos Duplos."
Após a morte de Yitschac, a Gruta de Machpelá passou à posse de seus filhos, Yaacov e Essav. Havia sobrado lugar para só mais um casal. A questão era se Essav com uma de duas mulheres ou Yaacov com uma de suas mulheres seriam sepultados ali.
Yaacov perguntou a Essav: "Que preferes, uma pilha de dinheiro de nosso pai Yitschac ou um lugar na Gruta Machpelá?"
Essav pensou: "Por que hei de perder tanto dinheiro para ganhar um lugar de sepultamento? Por enquanto, ficarei com o dinheiro, mais tarde arranjarei um lugar de sepultura de graça."
Essav aceitou o dinheiro de Yaacov e, com isso, perdeu o direito à Gruta de Machpelá para sempre. Mas como veremos depois (na Parashat Vaychi) Essav quis, apesar de tudo, ser sepultado na Gruta de Machpelá.
3. Quando D'us quis sepultar Adam, o corpo deste não entrava na gruta. Adam media cem amot de altura. D'us teve que dobrar o corpo de Adam para que coubesse na gruta. Esta era chamada de "Machpelá / Dupla" porque D'us dobrou o corpo de Adam.
Apesar de a gruta ser pequena, D'us queria que Adam fosse sepultado lá por ser um lugar sagrado.
Atualmente conhecemos a localização exata da Gruta de Machpelá. Fica na cidade de Chevron (Hebron), em Israel. Os judeus rezam lá para D'us e Ele ouve suas orações em mérito de nossos antepassados que ali jazem.
O Midrash nos conta: Como surgiram os sinais de velhice
Apesar de Avraham ser idoso, tinha a aparência jovem. Até a época de Avraham, as pessoas não tinham sinais exteriores de envelhecimento. Aparentavam ser jovens até a morte. Yitschac era muito parecido com o pai, e não se conseguia identificá-los com facilidade. Avraham disse a D'us: "Mestre do Universo! Se Yitschac e eu entrarmos juntos num local, as pessoas não saberão a quem prestar honras. Se o Senhor alterasse a aparência de um homem em idade avançada, as pessoas saberiam a quem honrar."
"Muito bem," replicou D'us. "Pediste algo bom. Serás o primeiro a ver seu pedido atendido!" Apareceram, então, sinais de envelhecimento em Avraham.
Avraham pede a Eliêzer para achar uma esposa para Yitschac
Em sua velhice, Avraham tinha tudo o que podia desejar, com uma exceção: seu filho Yitschac não estava casado.
Avraham chamou seu fiel servo Eliêzer e disse-lhe:
"Meu filho Yitschac precisa de uma esposa. Confio a você a tarefa de encontrar-lhe uma.
"Porém, não escolha uma das moças dos canaanitas, porque todos eles foram amaldiçoados por Nôach (como foi mencionado na Parashat Nôach)."
"Em vez disso, vá até minha família em Charan e procure lá uma boa e digna esposa para Yitschac. Apesar dos membros da minha família adorarem ídolos, sei que são bondosos e sinceros. Por isso, uma moça de minha família terá, para começar, bons traços de caráter. Ela poderá aprender a servir a D'us e transmitir a seus filhos."
Eliêzer partiu para Charan. Avraham deu-lhe uma carta em que dizia que tudo que possuía pertencia a seu filho Yitschac. Se Eliêzer mostrasse a carta para os parentes da moça, eles, com certeza, permitiriam que casasse com Yitschac.
Eliêzer chegou a Charan antes do fim do dia. Isto foi um milagre. Normalmente, a viagem para Charan levava muitos dias. D'us fê-lo chegar lá rapidamente para ajudar Yitschac a casar-se sem demora.
Eliêzer põe Rivca à prova, ao lado do poço
Ao anoitecer, Eliêzer chegou ao poço que havia na entrada da cidade de Charan. Diariamente, os habitantes de Charan enviavam suas filhas ao poço para lhes trazerem água e, por isso, Eliêzer sabia que lá encontraria todas as moças de Charan.
Eliêzer rezou a D'us: "Por favor, ajude-me a encontrar a moça adequada para Yitschac!
"Yitschac necessita de uma esposa hospitaleira, que receba cordialmente os numerosos hóspedes que sempre vêm à nossa casa, que seja rápida em servi-los e tenha paciência com eles. Yitschac também precisa de uma esposa justa e compreensiva.
"Hei de testar uma das moças que estão chegando para tirar água do poço. Pedir-lhe-ei para me dar água. Se me responder: 'Beba e também darei água a seus camelos', saberei que é bondosa e hospitaleira. Interpretarei isto como um sinal de que Tu, D'us, a escolheste como esposa de Yitschac. (Mas se disser: 'Por que devo extrair água para ti?' 'Podes tirar água do poço por si mesmo!' ou 'Pede a uma das outras moças,' então ela não é a esposa generosa e amável que estou procurando)."
D'us aceitou a oração de Eliêzer. Fez com que Rivca viesse ao poço. Ela jamais saía para tirar água do poço. Era de nobre linhagem e seu pai, Betuel, governava a região. Geralmente Rivca enviava criadas para estas tarefas. Agora, porém, os anjos de D'us dirigiram Rivca ao poço, a fim de conduzi-la a seu destino como esposa de Yitschac.
Eliêzer observou a maneira pela qual todas as moças tiravam água. E então reparou que uma delas não precisava abaixar seu balde para dentro do poço. Ocorria um milagre e a água subia até ela. Eliêzer pensou: "Esta moça deve ser uma tsadeket, se D'us faz este milagre por ela!" Correu até ela e pediu-lhe:
"Por favor, dê-me alguns goles d'água do seu jarro."
Rivca passa no teste
Rivca respondeu para Eliêzer respeitosamente: "Beba, meu senhor."
Quando Eliêzer terminou de beber, ela acrescentou: "Agora também darei a seus camelos toda a água que necessitam"
Eliêzer viu que esta era uma moça excepcionalmente bondosa e hospitaleira. Ela se ofereceu para dar água a dez camelos - uma difícil tarefa! Correu para o poço e encheu seu jarro repetidas vezes para ajudar um homem que lhe era estranho.
(A excepcional bondade de Rivca pode ser melhor apreciada se atentarmos à enorme quantidade de água que ofereceu-se para trazer: não apenas um jarro de água para cada camelo - o que ocasionaria que voltasse ao poço dez vezes para encher a ânfora - mas água o suficiente para que os camelos ficassem saciados. Sabe-se que camelos bebem enormes quantidades de água de uma vez, armazenando-a em seu estômago por vários dias. Rivca cumpriu a vasta empreitada com agilidade e rapidez, sem se incomodar com o fato de Eliêzer não levantar um dedo para ajudar uma menina pequena, e ainda manter-se de lado ociosamente, enquanto ela trabalhava sozinha.)
Eliêzer ficou esperando porque queria descobrir mais uma coisa: será que no final a moça pediria dinheiro pelo seu grande trabalho?
Porém, Rivca não tinha tais intenções. Quando terminou de dar de beber aos camelos, preparou-se para partir.
Rapidamente, Eliêzer ofereceu-lhe presentes caros. Estava convencido de que D'us havia enviado a moça certa.
Eliêzer deu à futura noiva de Yitschac um aro de ouro com um diamante que pesava meio-shêkel, e dois braceletes dourados, cada um pesando dez shecalim.
Estes presentes eram uma profecia sobre o futuro. Demonstravam que Rivca se tornaria a mãe do povo judeu. O diamante de meio-shêkel indicava que cada judeu contribuiria ao Templo Sagrado com meio-shêkel por ano. Os dois braceletes, que os judeus receberiam duas tábuas, e o peso de dez shecalim indicava que sobre essas tábuas os Dez Mandamentos seriam gravados.
Eliêzer perguntou a Rivca: "Você é filha de quem? Há lugar para mim na casa de seu pai?"
Rivca respondeu: "Sou filha de Betuel. (Betuel era sobrinho de Avraham). Temos lugar em casa para que durmas e também comida para teus camelos."
Eliêzer agradeceu a D'us: "Obrigado, D'us, por ter me conduzido à moça certa da família de Avraham."
Eliêzer na casa de Betuel
Rivca correu para casa para contar à mãe sobre o homem desconhecido da família de Avraham que precisava de um lugar para dormir e que havia lhe dado esses presentes.
Rivca tinha um irmão maldoso, Lavan (Labão). Quando viu a irmã usando um aro de ouro e pulseiras, pensou: "Se esse homem deu presentes tão valiosos para Rivca em troca de um pouco d'água, o que não me daria se o convidasse a entrar."
Lavan correu até Eliêzer e disse: "Bem-vindo à nossa casa! Temos lugar suficiente para ti. Também tirei os ídolos da casa!"
Lavan sabia que nenhum membro da casa de Avraham entraria em um local onde houvesse imagens de ídolos.
A família de Lavan serviu a Eliêzer uma refeição. Mas quando ele sentou-se à mesa, não começou a comer de imediato. Disse:
"Primeiro, quero explicar porque estou aqui.
"Meu senhor, Avraham, é muito rico. Tem um filho excelente, Yitschac. Qualquer moça de Canaã se sentiria feliz em casar-se com ele. Mas meu senhor deseja que se case somente com uma moça de sua própria família. Por isso me enviou aqui."
Eliêzer contou-lhes como conheceu Rivca perto do poço e terminou perguntando: "Concordam em dar Rivca como esposa para Yitschac?"
"Estamos de acordo, porque vemos que D'us fez tudo isto acontecer," respondeu Lavan, irmão de Rivca.
O pai de Lavan, Betuel, também estava presente. Betuel deveria ter respondido antes. Porém Lavan não honrava seu pai, e por isso respondeu antes dele.
Betuel era um homem mau. Pôs diante de Eliêzer um prato de comida envenenada. Queria que Eliêzer morresse para ficar com o ouro e objetos preciosos que este trouxera.
Mas enquanto Eliêzer falava, um anjo trocou as porções de Eliêzer e Betuel, e assim, este comeu a comida envenenada. Betuel morreu nesta mesma noite.
Eliêzer leva Rivca para Yitschac
Na manhã seguinte, ambos, Lavan e sua mãe, disseram a Eliêzer: "Queremos que Rivca fique em nossa casa mais um ano antes de partir."
Mas Eliêzer respondeu: "Não, quero que ela venha comigo agora mesmo!"
Perguntaram, então para Rivca: "Queres ir com este homem?"
"Sim, quero ir," respondeu. Estava feliz em deixar o irmão malvado e a casa repleta de ídolos e casar-se com o tsadic Yitschac.
Quando Rivca e Eliêzer chegaram às vizinhanças de Avraham em Canaã, Yitschac estava justamente voltando da reza de Minchá. Ele sempre rezava num certo campo onde havia silêncio e podia concentrar-se.
Nossos patriarcas instituíram as três preces diárias:
• Avraham - a oração matutina, Shacharit
• Yitschac - a oração da tarde, Minchá
• Yaacov - a oração noturna, Arvit
Rivca ergueu os olhos e viu um homem que parecia um tsadic. Havia um anjo sobre ele que o protegia.
Rivca desceu do camelo e cobriu seu rosto recatadamente com um véu.
"Quem é este homem?" - perguntou a Eliêzer.
"É meu senhor, Yitschac" - respondeu Eliêzer.
Eliêzer relatou a Avraham e Yitschac como D'us o ajudara a encontrar uma esposa para Yitschac.
Yitschac levou Rivca para a tenda de Sara. Percebeu, então, que ela era uma mulher justa, como fora sua mãe Sara. Pois, novamente, a luz ardia da véspera de um Shabat até o seguinte, a massa era abençoada de modo que sempre havia o suficiente, e a nuvem de D'us pairava sobre a tenda, tal como acontecia durante a vida de Sara.
Yitschac estava feliz por ter encontrado uma esposa digna.
O Midrash explica: Por que Sara mereceu esses milagres
Sara era meticulosa na observância das três mitsvot dadas especificamente às mulheres: acender as velas do Shabat, separar a chalá da massa, e cumprir as leis relacionadas à pureza familiar. Em troca, D'us a recompensou com três bênçãos:
• Por ser cuidadosa em tirar a chalá, sua massa foi abençoada.
• Como recompensa por cumprir a mitsvá de acendimento das velas, suas luzes ardiam da véspera de um Shabat até o próximo.
• Por seguir as leis de Taharat Hamishpachá, Pureza Familiar, a nuvem da Shechiná pairava sobre sua tenda, pois o estado de pureza atrai a Presença Divina.
Todos os três sinais reapareceram para Rivca porque ela cumpria essas mitsvot com a mesma dedicação de Sara.
Avraham casa-se novamente com Hagar, que ostenta o novo nome de Ketura
Enquanto Eliêzer estava em sua jornada, Yitschac também viajara. Fora buscar Hagar, para que se casasse novamente com seu pai. Yitschac pensou: "Meu pai está preocupado com meu casamento, enquanto ele próprio não tem uma esposa!"
Assim como Avraham cumpriu a ordem de D'us separando-se de Hagar e mandando-a embora, também assim o fez, casando-se novamente com ela, sob o comando de D'us.
A Torá relata que Avraham desposou uma mulher de nome Ketura, mas na verdade, casara-se novamente com Hagar. Se Ketura era a mesma pessoa que Hagar, por que a Torá atribui-lhe um nome diferente?
Após ter deixado a casa de Avraham, Hagar voltou à idolatria da casa de seu pai. Mais tarde, porém, fez plena e sincera teshuvá, mudando completamente sua personalidade. D'us, então, deu-lhe outro nome, "Ketura." Este novo nome foi escolhido por indicar seus atos positivos:
• Ela segregou-se, e absteve de relacionar-se com outros homens durante todos os anos em que esteve separada de Avraham (keter = isolou-se).
D'us ordenou a Avraham que tomasse novamente Hagar como esposa porque sabia que ela merecia unir-se a Avraham.
Avraham morre e é sepultado por Yitschac e Yishmael
Avraham morreu quando já era um ancião que tinha tudo o que podia desejar. Viu, inclusive, seu filho Yishmael fazer teshuvá antes de morrer.
Yitschac e Yishmael sepultaram-no na Gruta de Machpelá, ao lado de Sara.
D'us recompensou Yishmael, por ter vindo do deserto, especialmente para prestar as últimas honras em respeito a seu pai. Em retribuição, D'us honrou-o, enumerando a progênie de Yishmael, nos últimos versículos desta parashá.
Os louvores à Avraham
Quando Avraham faleceu, todos os grandes povos dentre as nações enlutaram-se. "Ai do mundo, que perdeu seu líder, e ai do navio que perdeu seu capitão!"
Durante sua vida Avraham rezara por mulheres estéreis, e estas engravidaram; pelos doentes, e ficaram curados. Até navios navegando no longínquo oceano foram salvos, pelo mérito de Avraham.
Apesar de o mundo inteiro negar a existência de D'us, conseguiu ser o único em sua crença, e afirmar a Onipotência de D'us. Por causa disso foi chamado de Avraham "Ha'ivri" (o hebreu), significando o homem que permanece de um lado (ever = lado), enquanto o mundo inteiro une forças contra ele.
Quando Avraham morreu, D'us louvou-o da seguinte maneira: "Avraham era um tsadic tão grande que, se não fosse por ele, Eu não teria criado o Céu e a Terra."
Por dois mil anos após a Criação do Mundo, D'us estava aborrecido com as pessoas que adoravam ídolos. Quando Avraham nasceu, D'us se alegrou, pois Avraham ensinou a dezenas de milhares de pessoas a servirem-No
Avraham sabia como curar doentes com diversos tipos de remédios (segulot). Acima de tudo, curava aqueles cuja "mente estava doente," os que não acreditavam em D'us. Ele os ensinava a acreditar no Criador.
Avraham foi posto à prova por D'us dez vezes e superou todas elas.
Compreendeu e seguiu a Torá muito antes da Outorga da Torá, ensinando-a a seus filhos.
Não houve um dia sequer, em toda a sua vida, em que não realizou um ato de santificação do Nome Divino (Kidush Hashem).
Os gêmeos diferentes
Ter um filho! Um filho a quem eles pudessem ensinar e educar para se tornar um verdadeiro servo de D'us! Este era o maior anseio e a prece de Yitschac e Rivca durante muitos longos anos.
Rivca estava casada com Yitschac há vinte anos, porém ainda não tinham filhos. Visitaram, então, o monte de Moriyá, o mesmo local onde Avraham elevou Yitschac sobre o altar.
Ambos, Yitschac e Rivca, oraram. Yitschac rezou: "D'us, faça com que os filhos que me darás nasçam desta virtuosa mulher!". Rivca rezou: "D'us, faça com que os filhos que me concederás sejam deste tsadic!". A oração de Yitschac foi aceita, e Rivca engravidou.
Agora, finalmente, Rivca teria um filho.
Durante a gravidez, Rivca tinha dores de tal intensidade que pensava que certamente iria morrer. Sentia como se duas forças travassem batalha em seu útero, tentando matar uma a outra. Ao passar por uma casa de estudos ou de orações, sentia movimentos internos naquela direção. Ao passar por um templo de idolatria, havia outro movimento, desta vez nesta direção.
(Apesar de Yaacov e Essav estarem no útero de Rivca, e ainda não possuírem mentes próprias, suas inclinações naturais já se manifestavam, mesmo antes do nascimento).
Confusa, Rivca perguntou à outras mulheres: "Vocês já sentiram algo parecido quando estavam grávidas?"
"Não", retrucaram.
Por isso, foi consultar Shem, filho de Nôach, um profeta de D'us e lhe perguntou: "Podes me dizer por que sofro dores tão fortes?"
O profeta respondeu em nome de D'us:
"Não temas!," explicou ele. "Estás carregando gêmeos em teu ventre. Eles lutam entre si. Um dia, o mais velho servirá ao mais novo, mas não quer servi-lo. Por isso, brigam dentro de ti."
Quando os gêmeos nasceram, eram completamente diferentes. A cabeça e o corpo do gêmeo mais velho eram tão peludos que parecia vestir um casaco. Sua pele também tinha uma forte coloração avermelhada.
Chamaram-no Essav, significando "o pronto", pois nascera com cabelos e pelagem completamente desenvolvidos, como de um adulto. (O nome Essav deriva de 'assui', feito).
O bebê mais novo, porém, tinha a pele lisa. Foi chamado de Yaacov. Yaacov vem da palavra 'ekev', calcanhar. Assim que Essav nasceu, tentou evitar que Yaacov viesse ao mundo, destruindo o útero de sua mãe. Yaacov, porém, segurou firmemente nos calcanhares de Essav, surgindo depois dele.
Essav recebeu seu nome dos pais, mas Yaacov ganhou este nome diretamente de D'us.
Quando completaram oito dias, seu pai, Yitschac, fez a milá (circuncisão) em Yaacov, mas teve medo de fazê-la em Essav.
"A pele de Essav está muito vermelha," preocupou-se Yitschac. "Esperarei até ficar mais velho e o sangue sair da superfície da pele. Talvez seja perigoso fazer a milá nele agora."
Essav cresceu, mas sua pele continuou vermelha. Yitschac então compreendeu que essa era a cor natural de Essav. Decidiu pois, fazer-lhe a milá no dia do Bar-mitsvá. Mas quando Essav completou treze anos, recusou-se e disse:
"Não permitirei que ninguém me faça a milá."
Os gêmeos crescem
Até completarem treze anos, a diferença entre Yaacov e Essav não era aparente.
Ambos foram ensinados pelo pai, Yitschac, e seu avô Avraham. Quando cresceram, o pai também mandou-os estudar na yeshivá de Shem e Ever. Essa yeshivá havia sido fundada pelo tsadik Shem, filho de Nôach. Junto com seu bisneto Ever, transmitia aos alunos o conhecimento de Torá que Adam aprendeu com o anjo de D'us no Jardim do Eden.
Ao atingirem a idade de treze anos, tornou-se evidente que tinham estabelecido diferentes objetivos na vida.
Os arbustos de murta e espinhos crescem lado a lado. Enquanto ainda não se desenvolveram e são tenros, parecem ser de espécies idênticas. Mas uma vez que crescem e amadurecem, a diferença entre eles torna-se patente. Um produz ramos que exalam um doce aroma, o outro, espinhos.
O gêmeo menor, Yaacov, desfrutava do estudo da Torá. Passava o dia todo dedicado aos estudos e esforçava-se para cumprir os ensinamentos de seus pais e mestres.
Essav, no entanto, não estava interessado em aprender. Quando ficou mais velho, escapava da yeshivá, perambulando pelos campos e florestas e caçando animais.
Ele não apenas capturava animais, mas também enganava as pessoas com sua língua afiada e loquaz.
Essav fazia acreditar que cumpria as mitsvot, quando, na realidade, era perverso e se comportava como tal.
Ele tomava, porém, bastante cuidado em esconder do pai, Yitschac, quem realmente era. Quando seu pai lhe perguntava, "Onde esteve hoje?". Ele simplesmente mentia: "Estudei Torá no Bet Hamidrash (Casa de Estudos)," era sua resposta desonesta.
Uma das artimanhas de Essav era perguntar ao seu pai questões muito detalhadas acerca da observância das mitsvot.
"Pai, tenho um problema," declarava.
"Qual é?" perguntava-lhe Yitschac.
"Como separa-se o dízimo do sal ou da palha?"
Com esta pergunta, Essav queria demonstrar falsamente que cumpria as mitsvot num nível muito mais elevado do que o exigido, pois não é necessário separar o dízimo de sal ou palha.
Muitas vezes, quando um hóspede deixava a casa de Avraham e Yitschac, Essav o seguia. Quando se encontrava a sós com o hóspede nas montanhas ou nos bosques, matava-o e roubava seu dinheiro.
Havia uma só mitsvá que Essav observava cuidadosamente: honrar seu pai. Todos os dias, quando ia para o campo caçar, trazia para casa carnes deliciosas para seu pai, Yitschac.
O próprio Essav sempre servia pessoalmente a carne a seu pai. Antes de entrar no quarto do pai, tirava as roupas de caça e vestia suas melhores roupas, como se fosse servir a um rei.
Há uma coisa boa que podemos aprender do perverso Essav: o quanto devemos honrar nossos pais!
Por que Yitschac amava Essav?
Yitschac foi mal conduzido até certo ponto pelas pretensões e simulacros de Essav, e também porque Essav oferecia a seu pai a saborosa carne dos animais que caçava. Não obstante, Yitschac percebeu que os feitos de Essav ficavam além dos padrões requeridos. Ainda assim, demonstrava-lhe amor. Quais eram seus motivos para ser tão afeiçoado a Essav?
Yitschac temia ser duro com ele, pensando: "Se seus atos não são como deveriam ser, apesar de ter-lhe devotado afeição, quão piores e mais depravados seriam se eu o tivesse totalmente rejeitado e demonstrado-lhe ódio!" Assim, com amor e carinho, Yitschac esperava atrair Essav para o serviço a D'us.
Ademais, Yitschac previu que Essav teria um descendente honrado, o profeta Ovadyá (que era um edomita convertido), e portanto, amou-o, em função do futuro.
Rivca, por outro lado, amava apenas Yaacov, porque conhecia a profecia que Shem lhe transmitira antes do nascimento dos gêmeos; que apenas o mais jovem seria digno e valoroso.
Essav vende seus direitos de primogênito para Yaacov
Todos souberam da triste notícia. Avraham havia falecido.
Yitschac sentou-se enlutado por seu pai. Yaacov foi pessoalmente à cozinha para preparar lentilhas, uma vez que costuma-se servir lentilhas aos enlutados.
Havia apenas uma pessoa na casa que não fora afetada pela tragédia daquele dia: Essav, que desaparecera pelos campos, como de costume.
Neste dia, Essav cometera o pecado de tomar uma moça que estava comprometida a outra pessoa. Também matou Nimrod. Aconteceu como se segue:
Essav estava caçando no campo, quando, à distância, percebeu os soldados do rei Nimrod rodeando-o. Nimrod vestia os preciosos trajes que D'us fez para Adam. Essav desejou imediatamente essas vestimentas. Aguardou até que os soldados de Nimrod deixaram o rei, protegido por apenas dois homens. Aproximou-se sorrateiramente de Nimrod, atacando-o pelas costas e decapitando-o. Os dois guardas retaliaram, porém Essav também os matou. Essav roubou os preciosos trajes de Nimrod e voltou para casa, exausto por causa da matança. Estava preocupado com os descendentes de Nimrod, que poderiam vingar a morte do pai e assassiná-lo.
Quando Essav entrou, encontrou Yaacov na cozinha. Essav provocou-o: "Por que você se dá ao trabalho de preparar esse prato tão elaborado? Há uma imensa variedade de deliciosos alimentos que podem ser consumidos sem requerer tanto preparo: peixes, insetos e besouros, porco, e assim por diante!"
"Você com certeza já escutou que nosso avô Avraham faleceu, e nosso pai Yitschac está de luto." Retrucou Yaacov. "Por isso estou cozinhando lentilhas, o alimento dos enlutados, para dar a nosso pai."
"O quê? O velho Avraham já foi arrancado deste mundo excitante? Não viveu centenas de anos?" - debochou Essav. "Ele se foi para sempre, para jamais se levantar!"
"Estou morrendo de fome! Alcance-me rápido estas lentilhas para comer, quero devorar tudo isto."
"Espere," respondeu Yaacov. "Primeiro você tem que concordar em me dar algo em troca. Você é o filho mais velho e por isso tem o privilégio de servir como cohen (sacerdote) por nossa família."
Antes da Outorga da Torá, o primogênito de cada família era como um cohen. Isto significa que ele tinha o privilégio de oferecer sacrifícios pela família e era honrado como cohen. Porém, a idéia de que o perverso Essav, que cometia tantos atos de maldade, estivesse encarregado do serviço de D'us como representante da família, preocupava a Yaacov.
"Certamente, não é adequado que ele sirva como cohen", pensava Yaacov.
"Essav," chamou ele. "Quero servir como cohen em seu lugar. Venda-me seu direito de primogenitura, o direito de ser cohen, e lhe darei a comida que tanto deseja."
"Concordo," foi a resposta imediata de Essav. "Agora, despeje a comida direto na minha garganta!", exigiu Essav.
Yaacov alimentou o irmão com pão e a sopa de lentilha vermelha que estava cozinhando.
Então Yaacov disse: "Sabe por que eu queria atuar como primogênito em seu lugar? Porque você é um assassino e um malvado. Por que você não pode se sentar em paz na tenda e estudar como seu pai e seu avô. Então poderá continuar a trazer os sacrifícios, como todos os primogênitos."
"Não me interessa servir a D'us," riu Essav. "Pode ficar com o direito de primogênito, se assim deseja. A Torá que você tanto estuda e as mitsvot que cumpre com tanto cuidado, para mim não têm utilidade. Prefiro uma boa comida e boa diversão."
Essav continuou a caçoar de Yaacov. Em seguida, voltou para o campo, continuando suas más ações.
Yitschac e Rivca viajam para a terra dos pelishtim
Pouco depois, a fome assolou a terra de Canaã. A comida era escassa. Yitschac pensou em viajar para o Egito, como seu pai Avraham fizera noutra época de fome. D'us, porém, ordenou que agisse diferente.
"Nasceste aqui, nesta santa terra de Israel," disse D'us. Não a deixe, fique aqui! Vou protegê-lo e abençoá-lo."
Yitschac obedeceu. Permaneceu na cidade de Guerar, na terra de pelishtim (que fazia parte da terra Israel).
Os pelishtim repararam que Rivca era uma mulher muito bonita e perguntaram para Yitschac:
"Quem é esta mulher que está com você?"
Yitschac percebeu o motivo da pergunta: "Se eu disser a eles, 'É minha mulher', pensou Yitschac, os pelishtim podem me matar para ficarem com ela." Por isso respondeu: "É minha irmã."
O rei Avimêlech também ouviu falar de Rivca. Teria gostado de levá-la para o palácio, mas lembrou- se de como D'us ficara irado com o último rei Avimêlech, castigando-o por raptar Sara. Talvez Rivca fosse realmente casada com Yitschac e D'us o castigasse também por levá-la a seu palácio.
Por isso, o Rei Avimêlech observou Yitschac e Rivca por um longo tempo para descobrir se agiam como marido e mulher. Chegou a conclusão que eram, na verdade, casados, e então o Rei Avimêlech chamou Yitschac a seu palácio.
"Rivca é tua mulher!" - acusou-o ele. "Por que mentiste? Quase ordenei a meus guardas para trazê-la a meu palácio."
Yitschac explicou suas razões para Avimêlech. "Se tivesse lhe dito a verdade," disse ele, "poderia ter perdido a vida. Em seu país, as pessoas matam o marido se querem ficar com a mulher."
O rei Avimêlech prometeu: "De agora em diante, estarão sob minha proteção."
Imediatamente, foi emitida uma proclamação real: "De agora em diante todo aquele que ousar tocar em Yitschac ou sua esposa, será condenado à morte."
Agora todos compreenderam que Yitschac e Rivca eram tsadikim especiais. Que outros estrangeiros já haviam recebidos a proteção do rei?
Deste modo, D'us tornou Yitschac famoso no mundo inteiro.
Todos ouviram também falar de Yitschac porque ele se tornou fabulosamente rico na terra dos pelishtim. Como isto aconteceu?
Durante o tempo em que Yitschac viveu com os pelishtim, semeou campos. Quando chegou o tempo da colheita, colheu a safra e a mediu. Logo, separou um décimo e o destinou aos pobres. Por ter distribuído maasser (um décimo dos seus ganhos) entre os pobres, D'us recompensou-o com riquezas. Na próxima vez em que semeou, colheu cem vezes mais do que havia plantado.
Os servos do Rei Avimêlech enchem os poços que Yitschac escava
Quando os servos do Rei Avimêlech viram como Yitschac ficara rico, sentiram inveja.
Maldosamente, entupiram todos os poços que pertenciam a Yitschac. Estes poços haviam sido cavados pelo pai de Yitschac, Avraham. Yitschac ordenou aos servos: "Limpem meus poços de toda terra e sujeira com que os servos de Avimêlech os encheram."
O Rei Avimêlech se deu conta que a inveja de seus servos poderia lhe trazer problemas. "Vá embora," ordenou ele a Yitschac. "Você ficou muito mais rico que nós."
Yitschac obedeceu, saindo da vizinhança da corte do rei, apesar de permanecer na terra dos pelishtim.
Assim que havia se estabelecido, ordenou aos servos:
"Cavem a terra. Talvez achemos novos poços de água."
Os servos cavaram fundo e encontraram um manancial. Assim que souberam disso, os servos de Avimêlech afirmaram:
"Na realidade, este poço pertence a nós, porque Yitschac achou-o em nossa terra."
Eles expulsaram os servos de Yitschac para longe do poço e o tomaram para si.
Mas algo estranho aconteceu!
Quando os servos do Rei Avimêlech tentaram extrair água do poço, não saía água. O poço havia secado.
Então, os servos de Avimêlech devolveram o poço aos servos de Yitschac. Assim que Yitschac recuperou a posse, este novamente se encheu de água.
Yitschac chamou este poço de Essec, que significa "luta", referindo-se ao fato de os servos de Avimêlech terem lutado por este poço.
Yitschac ordenou aos servos:
"Cavem novamente". Desta vez, acharam um segundo poço e novamente os servos de Avimêlech o tiraram dos servos de Yitschac. Mais uma vez D'us os puniu e, quando tentaram tirar água do poço, este permaneceu seco. Quando os servos de Avimêlech viram isso, devolveram o controle do poço a Yitschac.
Yitschac chamou este poço de Sitna. Sitna quer dizer "distúrbio", porque os servos de Avimêlech o haviam perturbado, tirando-lhe a posse do poço.
Yitschac então ordenou aos servos que voltassem a cavar e estes encontraram um terceiro poço. Desta vez, os servos de Avimêlech não tentaram tirar-lhe o poço. Haviam aprendido a lição!
Yitschac chamou este poço de Rechovot, que significa "espaço amplo" ou "alívio", pois, desta vez, os servos de Avimêlech pararam de discutir com ele; finalmente, encontrou paz e alívio das contendas.
O que simbolizam os três poços
Tudo o que aconteceu aos nossos antepassados, Avraham, Yitschac e Yaacov, foi um sinal de que algo similar aconteceria mais tarde a seus filhos, o povo judeu.
Cada poço que Yitschac cavava simbolizava um Bet Hamicdash, Templo Sagrado, (pois, assim como a água de um poço dá vida, a Shechiná, Divindade no Bet Hamicdash deu vida para o mundo).
1. O primeiro poço, Essec, representa o primeiro Bet Hamicdash, que as nações atacaram e finalmente destruíram.
2. O segundo poço, Sitna, simboliza o segundo Bet Hamicdash. Durante a época do segundo Bet Hamicdash, as nações não-judias tinham ódio dos judeus. Este sentimento os levou a destruir o Bet Hamicdash.
3. O terceiro poço, Rechovot, simboliza o terceiro Bet Hamicdash. Quando D'us nos enviar Mashiach, haverá paz no mundo e então Ele construirá o terceiro Bet Hamicdash.
A bênção do primogênito
Em sua velhice, Yitschac ficou cego.
Por que D'us fez com que o tsadic Yitschac ficasse cego? Uma razão é que D'us não concordou com o plano de Yitschac de dar a bênção do primogênito a seu filho mais velho Essav. Portanto, D'us fez com que Yitschac ficasse cego, para que Yaacov pudesse entrar sem ser reconhecido pelo pai. Ele então receberia a bênção de primogênito que merecia.
Yitschac temia estar próximo da morte. Chamou o filho mais velho, Essav, e lhe disse:
"Desejo abençoá-lo antes de morrer.
"Vá aos campos e cace um animal. Mate-o como ordena a Torá. Prepare-me uma boa refeição. Então merecerás a bênção por ter honrado seu pai."
Rivca ouviu as palavras de Yitschac. Chamou seu filho mais novo, Yaacov, e lhe disse:
"Seu pai quer abençoar seu irmão mais velho, Essav. Mas sei por uma profecia que a bênção cabe a você, porque Essav não a merece.
"Agora, vá até seu pai e obtenha a bênção antes que seu irmão volte. Prepararei a carne de dois cabritinhos novos (esta carne tem um sabor igual a de animal de caça). Seu pai está cego. Pensará que você é Essav e irá abençoá-lo."
Yaacov estava com medo.
"O que acontecerá se meu pai tocar minha pele?" - perguntou à mãe. "Sentirá que minha pele é lisa, e não cabeluda como a de Essav. Sei que Essav é mau e não merece a bênção, mas não quero que meu pai me amaldiçoe quando descobrir que o enganei."
Rivca respondeu: "Ordeno que você me ouça porque sei através de profecia, que nenhum mal lhe acontecerá. Cobrirei seu corpo com pêlo de cabra para que pareça cabeludo."
Yaacov começou a chorar. Rivca tentou acalmá-lo, dizendo:
"Yaacov, deves ir e obter a bênção, mesmo que te seja difícil. Um dia, serás o patriarca de uma nação sagrada, o povo judeu. Vai por consideração a eles, para que eles sejam abençoados."
Para certificar-se de que Yitschac ficaria convencido de que se tratava de Essav, Rivca deu a Yaacov um dos trajes de Essav que guardava para ele. "Vista esta roupa. Ela tem o cheiro do campo" disse para Yaacov. "Seu pai então acreditará que você é Essav."
O maravilhoso traje de caça de Essav
A roupa que Rivca deu a Yaacov era extraordinária e maravilhosa.
Era feita de pele de cobra. Sobre ela, estavam pintados todos os animais do mundo de forma tão realista que estes pareciam vivos. Quando este traje era usado por um caçador, os animais sentiam-se atraídos pelo seu correspondente animal pintado na roupa. Inevitavelmente, os animais se aproximavam das figuras até chegarem bem perto da pessoa que usava a roupa, e se mostravam tão mansos que esta podia facilmente capturá-los.
Este maravilhoso traje de caça havia sido foi feito por D'us para Adam. Mais tarde, caiu nas mãos do rei Nimrod. Essav matou Nimrod e ficou com a roupa para si.
Essav somente vestia esta roupa quando ia para os campos caçar, mas quando não a estava usando, deixava-a aos cuidados de sua mãe, Rivca. Neste dia, Essav não vestiu este traje porque seu pai havia lhe ordenado que fosse caçar com suas armas, e não com a roupa.
Yaacov é abençoado pelo pai
Rivca cobriu também o pescoço liso de Yaacov com pele de cabra para que parecesse tão cabeludo quanto Essav. Deu a Yaacov os dois cabritos que havia preparado e Yaacov entrou no aposento do pai tremendo e assustado.
"Quem é você, meu filho?" - perguntou-lhe Yitschac. Como era cego, não tinha certeza sobre quem havia entrado no aposento.
"Sou Essav, seu primogênito," respondeu Yaacov.
Yitschac ficou confuso. A voz soava como a de Yaacov e não como a de Essav. Além disso, este filho falava cortesmente e usava o nome de D'us, enquanto Essav usava linguagem rude. Como então podia ser Essav?
"Chegue mais perto. Aproxime-se, quero tocá-lo!" ordenou Yitschac.
Yitschac tocou a pele de Yaacov. Era cabeluda como a de Essav, pois estava coberta com o pelo do cabrito que a mãe havia posto.
Isto convenceu Yitschac de que era realmente Essav que estava diante dele. Comeu a comida que Yaacov trouxera e logo em seguida o abençoou.
Yitschac abençoou Yaacov com as seguintes palavras:
"Que D'us te dê o melhor orvalho que cai do céu e as melhores fontes da terra para regar teus campos. Que te dê muito cereal e vinho."
"As outras nações te servirão e serás o senhor sobre teus irmãos. Quem te amaldiçoar, será amaldiçoado e quem te abençoar, será abençoado."
Essav regressou
Yaacov estava pronto para deixar o aposento quando percebeu Essav se aproximando.
Essav não devia encontrá-lo! Rapidamente, Yaacov se escondeu atrás da porta; quando Essav entrou, ele saiu.
"Aqui estou com o animal que cacei para ti," anunciou Essav para o pai.
"Como pode ser?" perguntou Yitschac tremendo. "Alguém esteve aqui, serviu-me comida e o abençoei. Certamente, D'us é que fez com que isso acontecesse, e esta pessoa deve ser aquela que realmente merece a bênção."
Essav começou a vociferar, desapontado.
"Foi Yaacov, tenho certeza," exclamou. "ele enganou-me duas vezes! Primeiro, apoderou-se da minha primogenitura e agora ficou com minha bênção."
Yitschac respondeu: "Se você concordou em dar a Yaacov o direito de primogênito, a bênção, então, pertence realmente a ele, Yaacov."
Essav suplicou ao pai para abençoá-lo também. Yitschac respondeu: "Abençoar-te-ei também, mas não posso fazer-te senhor de seu irmão. Já dei a Yaacov esta bênção."
Por isso, Yitschac abençoou Essav assim: "Você terá sucesso quando for para a guerra, mas não poderá vencer seu irmão. Só se os descendentes de seu irmão Yaacov transgredirem a Torá, seus descendentes poderão governar sobre eles."
Yaacov parte rumo a Charan
Essav odiava Yaacov com toda a alma por ter tirado "sua" bênção. Estava determinado a matar o irmão. Rivca, preveniu-o: "Não fique aqui! Vá embora até que a raiva de Essav passe."
Os pais de Yaacov ordenaram-lhe:
"Viaje para a cidade de Charan, até Lavan (irmão de Rivca, tio de Yaacov). Procure uma boa esposa das filhas de Lavan."
Rivca pensou: "Quando Yaacov voltar com a esposa, Essav se reconciliará novamente com ele."